segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sem Acentos

Cerro meus
labios!
e por entre
meus dentes,
MAIS palavra
nao passa

Nem virgula
acento
resmungo
xingamento
choramingo
nem nada!
Que destrua
estapeie
escrotize
ou esculache
Ou que
brade
ser UMA,
dentre tantas
enganosas
verdades

Nao me
importa
- nao mais
que eu me
corroa
em odio
em tristeza...
E que me
arrebente
o ciume
e
o gargalhante
deboche

Que eles
vazem
em espasmos
sarcasticos
pelos cantos
malfadados
de um blog

Cerro meus
labios
e, muda,
seguirei ao
teu lado
E te verei
satisfeito

Cerro meus
labios
porque te
amo...

e nao veras
se sou
eu
a vela,
a chama
ou o proprio
incendio

ou ja seriam
cinzas?

Cerro-os!
E que todo
meu choro
sangre&estanque.

Dentro.

EG

terça-feira, 22 de junho de 2010

O Passeio


Por: Fabio da Silva Barbosa
Passei pelo Centro da Cidade e lá estava ela de novo. Dona Miséria, com sua cuia estendida e suas pernas feridas. Senhora Perdição passou por ali também. Seu corpo possuía a sensualidade que só o mau tem. Muitas tribos se encontravam por aquele pedaço: Os Alcoólatras, os viciados, os Opressores... Vivendo a tranquilidade de sua guerra pacífica, que não espanta mais ninguém. Sou um dos que se sente a vontade no Centro da Cidade. Aquela multidão de caras sem rostos se acotovelando furiosamente, cheiro de óleo queimado, fumaça negra saindo dos canos de descarga e tomando o ar. Cheiro de futuro. É um clima confortavelmente conflitante. Prédios encardidos, sujeira se acumulando pelos cantos... É o centro. É ali onde se aglomera tudo que o homem conseguiu construir em toda sua existência. O ser humano deve ficar orgulhoso de ver o resultado de seu crescimento... De sua evolução... Não sou mais humano. Não sei mais o que é isso. Só me sinto a vontade no centro do caos. Sinto-me em casa. Agora Dona Miséria está comendo macarrão azedo no lixo, com um monte de crianças chorando a sua volta. Maldita Dona Miséria. Boa tarde Madame Luxúria. Que bom vê-la por aqui. Pera aí... Olha quem vem lá. Meu grande amigo Ócio. Vamos agora mesmo voltar algumas quadras. Acabei de dar um belo passeio por esse jardim do inferno. Quero te mostrar algumas flores novas.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Poema de Aquário

Foto by Zo E Correia

Ahh lírico e onírico

da sereia de papel

que derrete

toda encanto-s...

me tortura, a leviana!

a cada escama

que se vai


EG

sexta-feira, 11 de junho de 2010

PORRESIA

por Antonio Celso Ferreira


Há uma gota de porra em cada poema

Há um gosto de poesia em porra nenhuma

quarta-feira, 9 de junho de 2010

puta que te quero santa, santa que te faço puta


Por obséquio, senhores do grande falo,
permitam-me a gentileza
de apenas ser simples gente.
.
Dessas de osso e carne
Sobrevivente
entre destroços e vigas
.
Não me tomem por santa mãe,
Nem tampouco por vaca vadia
.
Não me lancem à fogueira
Não me decantem em poesia
Pois cuspo em bajuladores poetas
Um FODA-SE pra ti,
inquisidor maldito!
.
Passo bem sem as flores
Devolvo-te as pedras que atiras
.
Olhem pra mim e me vejam!
Eis-me como sou!
EU,
apenas gente!
.
Das minhas tetas, derrama o leite
Até
- e muitas vezes
teu único alimento
Mas não pra teu desfrute
Nem pra-teu salvamento
.
Sem manto, coroa nem cetro
Sem maçãs, serpentes nem chifres
Não é meu esse tridente!
.
O teu capeta é um merda
O teu deus,
- ó louvador lascivo,
um misógino
cretino
.
NÃO SIRVO
.
EG

.
Foto por EGibson
Local: Interior de um barraco no centro do Rio de Janeiro, isolado pela Defesa Civil depois de desabamento parcial.

sábado, 15 de maio de 2010

IDEOLOGIAS

Autora: Telma Simões



Minhas mãos farrapentas
meus braços, talas
O verbo empalhado
- de araque!
eloquente BOÇAL

não vale o que come...
espantalho-eu!
horripilante!
num campo de
tolos...

ARRE, COVARDES CORVOS!

fracos

minha língua
ferina-de-trapo
EU BRADO!

uma vida de palha,

inútil e frágil...

senhores! não movo!

EG

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Boteco da Cachaça

497 singrando imponente os mares da Mem de Sá. De farol alto e na pressão, rumo à Penha. E uma nova enxurrada invade o ambiente em sucessivas-e-espumantes-e-amareladas ondas fétidas, golfadas das profundezas dos esgotos pra onde escorre a soberba ultrapassada e tacanha de cidadãos de sorrisos rasos mas que ainda assim insistem em arrotar o quão seriam abençoados, logo, criaturas especiais. E a tsunami de bosta, do descaso público e da pouquíssima vergonha invade o cubículo, onde, suspensos em bancos pra que nossos limpinhos pezinhos não se contaminassem, bêbados, contabilizávamos a sétima garrafa de cerveja que acabara de ser enfileirada junto as demais por sobre o vidro ensebado do balcão, atentamente observadas de baixo por olhares deprimidos dos ovos coloridos, dos jilós mergulhados em alho, das linguiças estorricadas, enroscadas em fios de cebolas refogadinhas. Não esquecendo por favor a menção ao nobre pernil, a essa altura consumido já pela metade. São 20:35 na curvilínea província das maravilhas. Ahh... da alardeada hospitalidade e aceitação do próximo. Salve os braços abertos de um Cristo cínico! Abertos? Desgraçados aqueles que porventura se imaginam abraçados...

Encurralados estávamos em um pé sujo da melhor qualidade. Quase engolidos por um exército de garrafas de cachaça das mais variadas procedências, formatos e sabores. Prisioneiros do paraíso. Uma noite – longa. Um vendaval. Chove… Chove para cacete! Que morramos afogados pois! Doce e delirante morte. Embriagados um do outro.

Ao menos bacalhaus a salvo – por ora; apinhados aos montes sobre nossas cabeças. Uma prece a Nossa Senhora dos Alagados.

To be continued...

EG

segunda-feira, 8 de março de 2010

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Sexta Feira 13 - Enterro


Pintura por: Juliana Dias

Freak

.
A luz apaga. E do lodo submerge embriagada em vinho criatura de aparência retorcida, enrugada tanto de pele quanto caráter. Dos olhos chispam faíscas de ódio e rancor, urrando pelo teu nome, exalando o cheiro de entranhas salpicadas de chagas abertas. E as pernas desgovernadas põe-se em marcha pisoteando fagulhas de orgulho e dignidade, dando início à contagem regressiva para o fim, para um recomeço atormentado a partir do novo lampejo de uma vida inumana, cujas narinas arfam os ventos arrasadores da desesperança. Rancorosa criatura. Pulsa trilho abaixo agora sem os freios. Nem rocha seria capaz de conter o famigerado instinto destruidor, truculenta e transbordante de uma saliva ácida, ávida por dilacerar toda carne que peca por desejar o que nunca, jamais, seria capaz de possuir. Só pararia no alvo – em ti... ou seria... n-ELA? Sede que sacia somente após toda justiça feita - com as mesmas mãos que te encheram de carinho. Que te acariciaram o pau. Um bom foda-se.

.
A porta se abre e do elevador os passos que aniquilarão todo belo. Cambaleante enfurecida, um gelo baiano ousa sonhar ser capaz de interromper sua trajetória. Filho da puta de paralelepípedo que não percebe a extensão de minha dor! Pra que o maldito entenda de vez, cinco golpes curtos desferidos contra o obstáculo – de chapisco, como teu peito. E o sangue escorre. Não da pedra, mas por entre os dedos pequenos e finos, magoados, tanto quanto o orgulho por ser preterida e não amada. Um ótimo foda-se então.

.
Ao longe uma perna longilínea de mulher e uma porta de carro - Ó estúpida cretina magrela que não tem consciência de quanto vale uma perna! Não tens ideia de quanto sofrimento te causaria um fêmur esmigalhado por uma porta de carro? Mas um fêmur dilacerado talvez não incomodasse tanto quanto a dor por ser ignorada. E a idiota desejada da vez quase fica sem seu precioso raquítico membro. Sortuda, a magrela é tocada pelo instinto de sobrevivência e seu fêmur de merda é salvo da pancada que se concluiu. Sorte de quem? A franzina não se fodeu.

.

E teus braços tentam desesperadamente e sem êxito conter o que não pode ser contido. Não se contém a devastação e a loucura. E as marcas de dentes cravadas no teu peito por um longo tempo te fariam lembrar de uma certa existência. Devastadora. O amor. O tesão...

Socos, pontapés, calúnias e injúrias balbuciadas entre presas que rangem enquanto a peleja perdura, naquela noite mal dormida, naquela noite eterna e escura. Mossas na lataria do carro, uma camisa feita em pedaços, mão e dedos arrebentados, não valem mais que um peito em frangalhos. Um simples abraço afetuoso - que não veio de ti - e a fera despenca enfim. Mas o pranto continua... Pois bem, hoje, é chegado o fim. Um lancinante grito de FODA-SE.

EG



terça-feira, 9 de fevereiro de 2010



TANTÃO
,
by ZunZunZun
(na Monstro Artífice Galeria de Arte)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Categoricamente

Inexorável. Reta. Infalível. Rasga o ar empurrando as partículas de matéria que inadvertidamente estão no seu caminho. Um rastro imperceptível de pólvora deixa para trás. O estampido seco que anunciou sua saída ainda ecoa, mesmo depois de perfurada a carne de areia. Ainda é quente o túnel prateado e estreito de onde rompeu, cega, a procura de seu alvo. Mas não tão quente quanto o que escorre, vivo, embolado, caudaloso, do orifício minúsculo por onde só passaria um filete. Do alto de toda verdade, o gigante despenca. A sarjeta áspera e rugosa é seu amparo. Inebriante oceano carmim, que se espalha e avoluma, inevitavelmente. Destemido Golias. Abatido pelo cajado da intolerância em forma de minúsculo e categórico compacto de chumbo. E se vai por terra o que antes parecia tão sólido, tão duradouro. E suas pernas não caminham, e suas mãos não gesticulam, e seus olhos, petrificados, não choram. Nem seu coração insiste em bater. Definitivo.
--
EG

Publicdo originalmente em 3 de Março de 2009

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Clicar para foto ampliada

CURTA DE PHILIPPE BASTOS
ARGUMENTO E ROTEIRO DE EGIBSON

ROTEIRO ORIGINAL e ficha técnica:

http://msgibson-eg.blogspot.com/2009/03/pulsao-e-renuncia.html




Foto em still: Pedro Meyer

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

"Falou o que quis? Agora ouve o que não quer..."



"...falando em mau cheiro, é o que tu chama de lixeiro, que inibe a multiplicação de tua espécie..."

"...sem opção, ou pedia perdão, ou um novo emprego...de lixeiro! isso se o lixo concordasse em ser recolhido por alguém da sua classe..."

"...a pior sujeira não sai cm sabonete"

(Direção, imagens e edição): Maia, (Voz e letra): Garnett, (Selo): Pegada de Gigante, (Assistência/Criação): Robson Ribeiro, Evelyn Albuquerque, Douglas Campolim, Marcos Maia e Daniel Olmedo, (Direitos de Imagem gentilmente cedidos por), Bruno Ruguê, Diogo "Jhow" Castilho, Hion Silva , Rafael Dan, Rafael Scotto, Rudão Brandolin

Via Rede Brasil Atual


"Mas cada um acha o que quer, não é mesmo?"

líquido

Ilustração: Alexandre Mendes, blog Reboco Caído
.
novo córrego maduro
por onde escorro de leve
Cansada.

não arrebata
tampouco
arrancA ou Arrasta
ele desliza tranquilo
sem pressa...
Perpassa
destroços passados
o gentil riacho
e não teme
o sinuoso
correr

escorrega
entre frangalhos
musgos
e pedras
limpa as frestas
revela-me úmida
por detrás das chagas
No teu leito
desarmada em pêlo,
uma brisa abraça
minhas rugas chorosas.

Por ventanias de
outrora,
eu cavo um suspiro
- o mais sôfrego
- o mais profundo

com a cabeça
encostada
em teu peito.
Minha fada
pousada no dorso
- saudosa ainda
recolhe as asas

Em meus cabelos,
brincam teus dedos

teu silêncio atenua
tantas dores
nefastas...

Calma.
nem ruído eu escuto
De olhos fechados
só o tilintar da novíssima
ÁGUA
me lava daqu-ele
me devolve o sorriso
e sobrepõe meu
soluço

EG

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

PUNHAL

Vós!
Pessoa risonha-iluminada!
Que viveis da pele pra fora...
Refastelada ao sol
na vossa cômoda
loura-bronzeada
disfarçada surdez

Meto-vos
um punhal no bucho!
E vereis
como sois
da pele pra dentro!
Enfio bem no centro
e torço devagarinho...
Bem no intestino vosso
- o grosso!
revirando
da direita pra esquerda
até que percebais
vossa desgraça
infeliz

Não sentis?
Pelo olor do vosso
ARROTO,
que o interior
de vossas tripas
contem
toda vossa futilidade
fermentada
- há muito já
bolo de merda
imundo!
Consumido nos
restaurantes
de luxo,
que pagais
com vossa
ganância maquiada
pelo discurso
- bajulador hipócrita!
de quem se
importa
com a FOME do
outro

Quero só ver,
depois de rasgadas
e expostas
vossas pretensas
estrebuchantes bondades,
se ainda sereis capaz,
de ostentar radiante,
essa tal felicidade.

EG

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

LHASA DE SELA

A cantora Lhasa de Sela (Set 1972) faleceu na madrugada de 1 de Janeiro de 2010.
E tua alma llorona não mais caminha por um deserto espinhoso, mas sobrevive num oásis de arrebatamento dos que mereceram o que tanto quiseste dar. Obrigada por me incendiar com tua emoção.

El Desierto


He venido al desierto pa'reirme de tu amor
Que el desierto es mas tierno y la espina besa mejor

He venido a este centro de la nada pa'gritar
Que tu nunca mereciste lo que tanto quise dar

He venido yo corriendo, olvidandome de ti
Dame un beso pajarillo, note asustes colibri

He venido encendida al desierto pa quemar
porque el alma prende fuego cuando deja de amar


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

MÃE


Foto: A Menina dos Prazeres
Autor: Daniel Pedrogam
http://br.olhares.com/a_menina_dos_prazeres_fo
to1757898.html

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É assim.
Das casas germinadas dos corredores compridos de alvenaria, ahhh siiim dessas tenho saudade. Mas daquela, justo aquela! de tábuas, baratescorpião e o assoalho em terra batida, minha memória se esquiva. Vai lá, vem cá, lembro algUns sim ALguns relances. Mas lá, justo lá, estive o mais juntinho perto de quem verdadeiramente amo. Mas lá, deus vixe maria! justo lá, a casa de tábuas do mingau translúcido de Maizena da caixa amarelinha - sem leite! - essa sim me foge à vista.
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Lembro só que vizinha pediu à mãe que por obséquio, favor, gentileza, que aquele frango ali, justo aquele frango, mas logo aquela galinha, ali!, em nossa geladeira guardasse. Pois bem! Vizinha abastada em casa sem luz elétrica estava. Dito que a panela nossa de todo dia, vazia! vaziiiinha, não suportou tamanha tentação. Mãe que sabe o que é ter sem nada a barriga de uma filha, sequer pensou se crime cometia. Robou-lhe da vizinha. E a penosa tadinha, tenho dó!, devolveu retalhada. Nada de sôbre, descoxada.
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Sou eu quem pra condená-la?
Essa filha que vos fala, filha desmemoriada.
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EG
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da nova série: experimentações #1