segunda-feira, 5 de abril de 2010

Boteco da Cachaça

497 singrando imponente os mares da Mem de Sá. De farol alto e na pressão, rumo à Penha. E uma nova enxurrada invade o ambiente em sucessivas-e-espumantes-e-amareladas ondas fétidas, golfadas das profundezas dos esgotos pra onde escorre a soberba ultrapassada e tacanha de cidadãos de sorrisos rasos mas que ainda assim insistem em arrotar o quão seriam abençoados, logo, criaturas especiais. E a tsunami de bosta, do descaso público e da pouquíssima vergonha invade o cubículo, onde, suspensos em bancos pra que nossos limpinhos pezinhos não se contaminassem, bêbados, contabilizávamos a sétima garrafa de cerveja que acabara de ser enfileirada junto as demais por sobre o vidro ensebado do balcão, atentamente observadas de baixo por olhares deprimidos dos ovos coloridos, dos jilós mergulhados em alho, das linguiças estorricadas, enroscadas em fios de cebolas refogadinhas. Não esquecendo por favor a menção ao nobre pernil, a essa altura consumido já pela metade. São 20:35 na curvilínea província das maravilhas. Ahh... da alardeada hospitalidade e aceitação do próximo. Salve os braços abertos de um Cristo cínico! Abertos? Desgraçados aqueles que porventura se imaginam abraçados...

Encurralados estávamos em um pé sujo da melhor qualidade. Quase engolidos por um exército de garrafas de cachaça das mais variadas procedências, formatos e sabores. Prisioneiros do paraíso. Uma noite – longa. Um vendaval. Chove… Chove para cacete! Que morramos afogados pois! Doce e delirante morte. Embriagados um do outro.

Ao menos bacalhaus a salvo – por ora; apinhados aos montes sobre nossas cabeças. Uma prece a Nossa Senhora dos Alagados.

To be continued...

EG