terça-feira, 22 de junho de 2010

O Passeio


Por: Fabio da Silva Barbosa
Passei pelo Centro da Cidade e lá estava ela de novo. Dona Miséria, com sua cuia estendida e suas pernas feridas. Senhora Perdição passou por ali também. Seu corpo possuía a sensualidade que só o mau tem. Muitas tribos se encontravam por aquele pedaço: Os Alcoólatras, os viciados, os Opressores... Vivendo a tranquilidade de sua guerra pacífica, que não espanta mais ninguém. Sou um dos que se sente a vontade no Centro da Cidade. Aquela multidão de caras sem rostos se acotovelando furiosamente, cheiro de óleo queimado, fumaça negra saindo dos canos de descarga e tomando o ar. Cheiro de futuro. É um clima confortavelmente conflitante. Prédios encardidos, sujeira se acumulando pelos cantos... É o centro. É ali onde se aglomera tudo que o homem conseguiu construir em toda sua existência. O ser humano deve ficar orgulhoso de ver o resultado de seu crescimento... De sua evolução... Não sou mais humano. Não sei mais o que é isso. Só me sinto a vontade no centro do caos. Sinto-me em casa. Agora Dona Miséria está comendo macarrão azedo no lixo, com um monte de crianças chorando a sua volta. Maldita Dona Miséria. Boa tarde Madame Luxúria. Que bom vê-la por aqui. Pera aí... Olha quem vem lá. Meu grande amigo Ócio. Vamos agora mesmo voltar algumas quadras. Acabei de dar um belo passeio por esse jardim do inferno. Quero te mostrar algumas flores novas.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Poema de Aquário

Foto by Zo E Correia

Ahh lírico e onírico

da sereia de papel

que derrete

toda encanto-s...

me tortura, a leviana!

a cada escama

que se vai


EG

sexta-feira, 11 de junho de 2010

PORRESIA

por Antonio Celso Ferreira


Há uma gota de porra em cada poema

Há um gosto de poesia em porra nenhuma

quarta-feira, 9 de junho de 2010

puta que te quero santa, santa que te faço puta


Por obséquio, senhores do grande falo,
permitam-me a gentileza
de apenas ser simples gente.
.
Dessas de osso e carne
Sobrevivente
entre destroços e vigas
.
Não me tomem por santa mãe,
Nem tampouco por vaca vadia
.
Não me lancem à fogueira
Não me decantem em poesia
Pois cuspo em bajuladores poetas
Um FODA-SE pra ti,
inquisidor maldito!
.
Passo bem sem as flores
Devolvo-te as pedras que atiras
.
Olhem pra mim e me vejam!
Eis-me como sou!
EU,
apenas gente!
.
Das minhas tetas, derrama o leite
Até
- e muitas vezes
teu único alimento
Mas não pra teu desfrute
Nem pra-teu salvamento
.
Sem manto, coroa nem cetro
Sem maçãs, serpentes nem chifres
Não é meu esse tridente!
.
O teu capeta é um merda
O teu deus,
- ó louvador lascivo,
um misógino
cretino
.
NÃO SIRVO
.
EG

.
Foto por EGibson
Local: Interior de um barraco no centro do Rio de Janeiro, isolado pela Defesa Civil depois de desabamento parcial.