terça-feira, 19 de setembro de 2017

Recordações


Escrevo no não dito.
Plena, em apneia
Então respiro.
Grito.

Todos ouvem
Mas nada contei.

Memórias...
não me lembro se as tive.

Não caibo em mim.
Me esgueiro pelos poros.
Que importa?
Se não existo,
senão neste lado de fora.

Não há um braço.
Fígado, persona.
Eu, mula sem pescoço.
Cílios, tronco.
Unha, pata.

Inumana.
Inominável.
Não eu.

Falta-me ciso, molar. 
Besta desdentada.

A caminho de casa
carrego nada
Só tudo que vive arrasto comigo.

Atracada a um tronco.
Sem as pernas a largos passos.
Minhas folhas darão passagem.

Cumprimento a capivara.
Que nesta noite passeia tranquila.
Como eu, infinita.
Também desse lado de fora.

Neste instante fui embora.

Caos.

EG


sábado, 18 de março de 2017

SAUDADE


Onde exatamente me larguei?
Em que esquina,
viela,
ponto fraco,
a minha mão 
largou do meu
braço?

Nalgum caixote de bar?
Cama?

Acaso estarreci
nas asperezas
de um bate boca?
E vaguei petrificada
em direção contrária
de mim
- gita
até sumir 
da minha vista?

Depois de chicotear
minha língua em labaredas
contra o muro
de um mundo moco,
recebi de volta
uma pedra entre os olhos
que me esvaziou a memória.

Teria sido assim?

Toda noite choro
com saudades de mim.

Alguém ajuda.
Perdi-me.

Me larguei 
nalguma esquina.

Estou lá esperando.
- Em prantos.

Só sei que não virei sozinha!
Nem trazida.

Só sei que eu só virei
se eu for me buscar.

Que eu me encontre
antes de tudo acabar.

EG