terça-feira, 19 de setembro de 2017

Recordações


Escrevo no não dito.
Plena, em apneia
Então respiro.
Grito.

Todos ouvem
Mas nada contei.

Memórias...
não me lembro se as tive.

Não caibo em mim.
Me esgueiro pelos poros.
Que importa?
Se não existo,
senão neste lado de fora.

Não há um braço.
Fígado, persona.
Eu, mula sem pescoço.
Cílios, tronco.
Unha, pata.

Inumana.
Inominável.
Não eu.

Falta-me ciso, molar. 
Besta desdentada.

A caminho de casa
carrego nada
Só tudo que vive arrasto comigo.

Atracada a um tronco.
Sem as pernas a largos passos.
Minhas folhas darão passagem.

Cumprimento a capivara.
Que nesta noite passeia tranquila.
Como eu, infinita.
Também desse lado de fora.

Neste instante fui embora.

Caos.

EG