sexta-feira, 26 de abril de 2019


Trinca


Assentado sobre placas tectônicas
Castelo de cristal em vigas de aço
Envolto em orquídeas raras

Flores brotam no vidro
Cactos sobem das frestas
Tudo cega resplandecente

Arco-íris no céu.
Uma nuvem
e o odor de tempestade iminente

As crianças... essas, de mãos dadas,
cantarolam doces cantigas de roda.
Pezinhos serpenteando
estilhaços pontiagudos
a um piscar da ribanceira

Ruído sob meus pés.
Uma trinca que grita até a torre

boca palpita
coração gargalha
o pensamento chora

Febre

Me deixa deitar no teu ombro
Again
E agora.
Antes que já era.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

EU me visitei hoje.
Nem lembrava mais dos
olhos castanhos, enormes, brilhantes.


Nem sei de onde vim.
Mas obrigada pela visita.
Me espero por uma eternidade.

Foi bom me rever.

Até me apalpei.
Dancei.
Lembrei.

Eu conversei comigo.

EU TROUXE TOM!!!!


Tom Waits...

Puxa, nem precisava tanto...

Valeu.

Dançando, sou deliciosa.

Tinha esquecido desse detalhe.


Imbatível.

Eu me lembrou de como eu parti.
De tudo que deixei pra trás.
Da merda do mundo que carreguei.

Louca. Que visita!

Apareça mais!
Tu és bem-vinda.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Sonho 2 de Fevereiro


Um passarinho
fez um ninho
em meus cabelos.

Daí entendi
porque andava
por aí
ouvindo pios.

Foi dureza tirá-lo dos meus fios.

Asas não as tinha.
Cresceu assim, o pobrezinho.
Emaranhado.

Piou lamentoso pra voltar.

No chão era só um rato!

Aninhar-se em
meus cachos,
piar em meus ouvidos,
e assim ganhar o céu.

Sobrevoar o paraíso.
Mergulhar no precipício.
Alado.

EG

domingo, 21 de janeiro de 2018

Autor: Renan Henrique Carvalho


























Os cães estão a solta
Acolitando seu juramento
Pelejando contra a choldra
Sem ponderar 
Os cães estão a solta


terça-feira, 19 de setembro de 2017

Recordações


Escrevo no não dito.
Plena, em apneia
Então respiro.
Grito.

Todos ouvem
Mas nada contei.

Memórias...
não me lembro se as tive.

Não caibo em mim.
Me esgueiro pelos poros.
Que importa?
Se não existo,
senão neste lado de fora.

Não há um braço.
Fígado, persona.
Eu, mula sem pescoço.
Cílios, tronco.
Unha, pata.

Inumana.
Inominável.
Não eu.

Falta-me ciso, molar. 
Besta desdentada.

A caminho de casa
carrego nada
Só tudo que vive arrasto comigo.

Atracada a um tronco.
Sem as pernas a largos passos.
Minhas folhas darão passagem.

Cumprimento a capivara.
Que nesta noite passeia tranquila.
Como eu, infinita.
Também desse lado de fora.

Neste instante fui embora.

Caos.

EG


sábado, 18 de março de 2017

SAUDADE


Onde exatamente me larguei?
Em que esquina,
viela,
ponto fraco,
a minha mão 
largou do meu
braço?

Nalgum caixote de bar?
Cama?

Acaso estarreci
nas asperezas
de um bate boca?
E vaguei petrificada
em direção contrária
de mim
- gita
até sumir 
da minha vista?

Depois de chicotear
minha língua em labaredas
contra o muro
de um mundo moco,
recebi de volta
uma pedra entre os olhos
que me esvaziou a memória.

Teria sido assim?

Toda noite choro
com saudades de mim.

Alguém ajuda.
Perdi-me.

Me larguei 
nalguma esquina.

Estou lá esperando.
- Em prantos.

Só sei que não virei sozinha!
Nem trazida.

Só sei que eu só virei
se eu for me buscar.

Que eu me encontre
antes de tudo acabar.

EG

sábado, 21 de junho de 2014

... estranheza de não saber.


Fonte: http://lounge.obviousmag.org/monica_montone/2014/05/-szymborska-a-prova-de-que-as-mulheres-nao-escrevem-somente-sobre-o-amor.html



Sem mais, um poema de Wislawa Szymborska:
Sob uma estrela pequenina
Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.
Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.
Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco de minuetos.
Me desculpem a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes levo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgues má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.
(imagens: google)


© obvious: http://lounge.obviousmag.org/monica_montone/2014/05/-szymborska-a-prova-de-que-as-mulheres-nao-escrevem-somente-sobre-o-amor.html#ixzz35HXbUjxs 
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