quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Em construção...

Conto iniciado na madrugada do dia 28 de Outubro, numa crise de insônia... Proposta inicial para o título: RAJAH. Obs.: Sugestões para continuidade, serão bem vindas.
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Assim que abri a porta do elevador e dei os primeiros passos rumo ao meu novo “lar”, senti os pêlos eriçarem com aquele grito saído das profundezas que eu mal conseguia definir se humano ou bestial. Um som que me remetia direto aos filmes de terror de outrora, em P&B, que costumava assistir quando criança, sentada solitária e noite adentro no sofá da sala, guarnecida apenas por um lençol fino, que me envolvia dos pés à cabeça, me dando toda segurança que eu julgava necessária, deixando aberta apenas uma pequena brecha pra que os olhos pudessem acompanhar - ou não - as tentações que a TV oferecia. Tentações apavorantes que eu, ainda criança, não conseguia resistir – o tempo passou e continuo não conseguindo passar sem elas. Ainda me é bastante cara a imagem de uma carruagem chegando numa noite fria a um castelo sombrio e aterrorizdor, no alto de uma imensa e esfumaçada colina. Mesmo que carruagem e castelo tenham se modernizado um pouco, ainda preciso deles. Como o ar que respiro.

O som que me recepcionou ao chegar no edifício RAJAH era assim. Algo entre o choro e o êxtase. Um grunido lamuriento e ao mesmo tempo lascivo, que percorria os canais auditivos e me chegava até os ossos, como que fossem trincá-los. Fazia frio. Dia daqueles cinzentos que tanto aprecio. Caminhei por aquele corredor comprido, recheado de portas, cada uma abrigando seu próprio quinhão de originalidade e mistério, que tanto me excitava e me alimentava a alma de escritora maldita. Vontade tinha eu de irromper uma por uma, coberta, se possível, por algum manto invisível e protetor que me permitisse penetrar sem ser percebida naqueles cubículos – claro que deveriam ser cubículos – generosos em histórias que nunca foram lidas, jamais degustadas. E pra que serve então uma história de terror se nunca ninguém, além dos afortunados e extraordinários personagens, tomou conhecimento? Não. Era pra isso que eu estava ali. Era meu dever escancarar todas aquelas portas, uma a uma, expondo à humanidade os inúmeros e sórdidos detalhes escondidos em recônditos mais impensáveis e deliciosos. A simples visão das portas enfileiradas me fazia tremer de pavor e arrebatamento. Quanto fartura, pensei... Cheguei a salivar de alegria.
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Numa primeira análise o corredor não era nada lá essas coisas assim que pudesse suscitar suspeitas quanto sua capacidade de abrigar criaturas infâmes e suas pecuinhas, baixezas e extraordinarices – pequenos mimos humanos que tanto amo! É verdade que na primeira curva havia uma enorme mancha amarelada na parede, que eu definiria como uma boa mijada de cachorro; muito provavelmente vira-lata. Macho por certo, dado que a mijada era num canto, sabiamente marcando seu território. A coisa estava assim, meio que revoltosamente espirrada a uma dada altura, pra escorrer sinuosa até o rodapé gasto. Era só a mijada e pronto. Nada de latas espalhadas, nada de baratas cruzando meu caminho, muito menos ratazanas. Só uma simples mijada de um vira-lata territorialista e viril. E o grunido ainda não identificado...

2 comentários:

  1. Estão aí dois vizinhos para sua fervorosa amante de filmes de terror.

    ALOZIAS

    Alozias era um homem de estatura baixa e um corpo obeso ao extremo. Cortava sempre o cabelo a máquina para não ter trabalho de pentear e, de quebra, disfarçar a calvície que não parava de avançar. Sempre que chegava do trabalho tirava a calça e o calçado, perambulando pela casa com a cueca furada e a camiseta branca amarelada. Abria a garrafa de cana e terminava o porre que havia começado no boteco da esquina. Quando o corpo começava a dar sinais de seu peso, se jogava no sofá e ligava a televisão em qualquer canal. Abria o embrulho de gordura e começava a chupar o tira gosto. A mente o tirava dali e a TV se dissolvia em lembranças que há muito tempo o atormentavam. Desde sempre, para dizer a verdade. Era sempre a mesma visão. Sentado no chão do açougue, ainda bem pequenino, ficava apreciando seu pai, de quem herdou a profissão de açougueiro, cortar as peças de carne. Qualquer coisa que caísse no chão virava logo comida para o pequeno esfomeado. Sua alimentação consistia basicamente de carne crua, gordura e coisas do gênero. Normalmente o que os fregueses não queriam. Gostava quando sua vizinha, a moça do quarto ao lado, recebia visitas. Ela tinha um nome estranho, mas era algo que começava com a letra P. Aí ele podia tentar se masturbar ouvindo seus gemidos. Era uma pena que sempre pegava no sono antes de terminar o ato.

    Penélope (a moça do quarto ao lado)

    Penélope era uma menina magrela, mas que tinha um charme todo especial. Mesmo com as pernas finas e mordidas de mosquito, conseguia despertar o desejo dos homens. Dizia ser maior de idade, mas o dono do hotel já estava desconfiando de sua carteira de identidade. Chegou há mais de dois meses e dizia ser estudante. Mesmo com todo o calor que vinha fazendo, não dispensava o casaco rosa sobre a blusa de oncinha e a bota cano alto. A mini saia contrastava ferozmente com a roupa de frio. Gostava de maquiagem em excesso e sempre inventava um novo tipo de penteado. Vodca e cigarros a acompanhavam durante as noites de insônia e solidão. Ás vezes chegava acompanhada com rapazes estranhos. “O que foi porra. São meus amigos de faculdade.” Respondia ao olhar acusador do dono do estabelecimento.

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  2. tô falando... ótimas contribuições Fábio! Pérolas... Aguarde, muito em breveserá feita a "transfusão".

    Isso vai ser divertido.

    Abço grande.
    EG

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