sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Entrevistando "o" poeta, Glauco Mattoso

Por Fábio da Silva Barbosa (Blog Reboco Caído http://rebococaido.blogspot.com/ )


Ele é poeta, ficcionista, ensaísta, colaborou com diversos veículos de infor-mações, como a inesquecível revista em quadrinhos Chiclete com Banana e tirou seu nome artístico da doença que o cegou. Sabem quem é? Não poderia ser outro, se não o grande Glauco Mattoso.


Como foi o despertar para a arte?

Fallando em despertar, faço logo um alerta: só escrevo pela antiga orthographia e quero que minha escripta não seja mexida, certo? Accordei para a arte porque desde creança vi que minha janella para a vida commum seria fechada pela cegueira progressiva. Foi uma sahida existencial, uma escapatoria.


Qual o principal papel da arte em sua vida?

Antes de mais nada, evitar o suicidio, ou o alcoholismo, ou as drogas mais letaes. De quebra, a arte rendeu algum tesão... (risos)


O que é o underground para você?

Para quem ja cresceu na pe-ripheria e desde cedo foi saccode pancada da moleca-da, ser "underdog" na vida ou "underground" na arte faz pouca differença... A margi-nalidade, social ou litteraria, veiu a ser meu proprio habitat.


Como foi trabalhar com o alternativo na época da ditadura?

Por ser a unica via livre da censura, a imprensa nannica offerecia um illimitado universo creativo. Meu zine anarchopoetico, "Jornal Dobrabil", fez coisa que nenhum grande orgam impresso podia fazer em termos de linguagem, diagramma-ção, conteudo, emfim, foi um vehiculo de commu-nicação de facto.
..
Glauco, careta em relação às suas obras?

Minha philosophia de vida é o paradoxo. Acho que todos somos poços de contradicção, moci-nhos e bandidos ao mesmo tempo. Portanto, nada de extranho no facto de eu ser mais louco como personagem que como pessoa.


Você se venderia para ter uma vida mais confortável?

Através da historia, e em muitas regiões do mundo, os deficientes foram escravizados ou tiveram que se pros-tituir para sobrevive-rem. Si eu vivesse na India, provavelmente seria massagista e chupador para ga-nhar o pão. Aqui posso me dar ao luxo de ser massagista e chupador para ga-nhar inspiração nos sonetos ou nos con-tos... (risos) Mas isso não significa que eu assignaria contracto com uma editora commercial que me pagasse bem mas me exigisse radicaes mudanças de estylo.
.
.
O atual panorama político brasileiro e mundial segundo o poeta:

Ja versejei demais sobre o scenario politico, particu-larmente no livro"Poetica na politica", e tenho commentado a respeito em minha columna na "Caros Amigos". Não ha o que accrescentar: fallar de merda sempre foi minha especialidade..


A tese de que trocamos a ditadura militar pela capital é real?

Sim, mas na verdade nunca a trocamos. A dictadura economica é permanente. Apenas a militar foi addicionada a ella durante aquelle periodo.
.
.
O ser humano se entregou à alienação?

Pode ser, mas ha varios typos de alienação, umas damnosas, outras gozosas. Phantasias sexuaes, mesmo as minhas, que são sadomasochistas, podem ser boa estrategia para compensar as difficuldades practicas. Ja a desinformação é a peor forma de alienação, da qual fujo como o Diabo da cruz.


Seu epitáfio.

Epitaphio? Vira essa bocca para la! Não pensei ainda. Talvez na hora de morrer eu decida. Mas seria algo como "Aqui jaz alguem que jamais soube o que dizer da morte e só fallou mal da vida"... (risos)

Um comentário:

  1. Antes de mais nada, obrigado pela visita e pela divulgação. É sempre um prazer ter você por aqui. Depois, ou melhor, agora, vou dizer que gostei muito de entrevistar o Glauco. Fizemos um ótimo contato. Ele é um grande cara. E para fechar gostaria de lhe propor uma entrevista para sair no meu fanzine impresso O Berro, onde saiu em primaeira mão esta do Glauco, e futuramente será postada também no blog Reboco. Caso aceite é só fazer contato pelo e-mail: fsb1975@yahoo.com.br.
    Do amigo
    Fabio da Silva Barbosa.

    ResponderExcluir