segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

esvaindo-me em tascos por aí... desfaço-me de mim a cada encontro... crateras que não regeneram, uivos lancinantes de dor.. eco infinito

e ao fim, apenas uma carcaça carcomida.

carcaça feliz e saudosa.

EG

sábado, 26 de dezembro de 2009

"Por tua causa desespero e morro..."

.
"Por que Mentias?" de Álvares de Azevedo
poema declamado por Gabriel Braga, em novela da Record

Via Laís Azevedo, Blog Literatura em Foco




"Eu morro."

REPUBLICANDO

.
VENTANIA,
bateu de novo e te arrastou de vez...
.
Por gigantescas
arenosas montanhas
tortuosas escaldantes
do deserto amarelado
que por séculos caminho
- com SEDE,
- com FOME,
vislumbro
bruxuleantes oásis
AluCinógEnoS
de carinho.
Refrescantes
tendas de amizade
- e bem querer,
onde imagino
poder

aliviar a secura
repousar
cética mortalha,
cansada
- há tempos abatida.

Mas logo
a repugnante realidade

na figura de
implacável furiosa
tempestade
pra longe
me arrasta
da visão enganosa
- desfaz-se desejosa fantasia...

Chicoteia
meu corpo
Impiedosa!
- sarcástica, cínica
num ciclone
de ventos cortantes
que dilaceram

meus fios de esperança

Lábios descamados, garganta ferida...

retomo minha sina.

E por mais mil séculos
carrego
esses ásperos
malditos
grãos de areia da verdade
que me arranham,
- incômodos
entranhados
nos póros

cabelos e olhos
Na boca.
Nariz e ouvido.

Na miserável ínfima frágil estima.

EG

Publicado originalmente em 11/05/2009.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

TIRANA

.
sem alma
sem trono
sem coroa
nem graça
nunca-louvada
e já muito vivida
Só lembranças
de reinados
antigos
que vertidos
em prosa&poesia
me preenchem
em retalhos a vida

Se me proibem
a rima que
escorre sofrida
quem sou eu?
Diga...
- miserenta
- maldita
que SÓ de
passados
suspira

Vai
Me deixa em paz!
Não sou como tu!!!
De garras certeiras
realeza da vez
poderosa e feliz!
EGOÍSTA!!
Pois todo tesouro de mil terras
O mais precioso entre as preciosidades
- o amor do meu amor...
em tuas torres
de muralhas-virtudes
já enclausuraste!

O que queres ainda
de uma rainha
em farrapos
sem manta
e deposta?
Ergue teu cetro
TIRANA!
Lê teu decreto
Imploro...
Por tua
loura coroa!
Me curvo em joelhos,
se é teu desejo
teus pés até beijo
Criatura cruel em pele
de santa,
- aos olhos dele
perfeita!
Ateia
tua brasa ardida
no lombo
de pobre-diaba
que tua tão graciosa
felicidade real
incomoda...

Melhor o ferro!
o fogo!
Antes perfures meu olho!
Do que queimar meus castelos,
- de saudades...
Do que estancar o meu berro
ou impedir-me que o ame
Do que calares meu
VERSO

Amar & Versar
sinto, vil majestade
são súditos meus!
não me podes pilhar
é tudo que tenho
é todo meu reino

É SÓ
o que prezo

EG,
Set/2009

PERU DE NATAL

– e o despertador massacra às 4:30 da manhã. Abre os olhos. As pálpebras pesam. Um dia inteiro pela frente. Aterrorizante a ideia. O aluguel vence hoje e ela só tem parte do dinheiro. Faz força pra se arrastar até o banheiro. Sente-se só. Sem esperanças. Vontade de chorar. Acabou o leite. Mas ainda tem o café, o açúcar e algumas baguetes. Macarrão, feijão e uma saladinha pra ceia de hoje. Então ainda está tudo bem... Sorri e já consegue caminhar. Lembra que seu filho precisa de um atlas. O livro de Geografia que distribuiram esse ano veio com dois Paraguais! E veja só, sumiram com o Equador! Sente-se humilhada... DECIDIDO. Vai dobrar o turno de hoje...

EG

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

REMEXENDO BAÚ (III? IV?)


Foto: Forca
Autor: Rui Miguel F. Coelho

CORSÁRIA
--
Corsária facínora
do gélido sangue
e vestes tão rotas
Invade baía
e escala
muralhas
do teu
frágil forte
pra odiosa
usurpar do
teu prazer
toda sorte
.
Mas caso abatida
é logo atirada
em fétida
úmida
desprezível
masmorra..

Enquanto a carcaça
pelas valas escoa,
o coração da pirata,
ao contrário, gargalha!
Cínico e feliz
E até descompassa...
- arrepender-se jamais!
É livre!
Nas gloriosas lembranças
de pilhagens das boas
de escalpelos sangrentos
dos saloons, das contendas
das certezas ao mar!
das goladas de rum

Na escuridão solitária
- desprezada
em tua cela avarenta
por meses a fio
a alma corsária
saboreia
o gozo
outrora usurpado
- Louca!
segue aguardando
e brindando,
qualquer que seja
seu fim:
paredão excitante
de fuzilamento
ou a mais doce
sedutora
libertária
de tuas-tão
temidas forcas
.
EG
Publicado originalmente em 23/06/2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

outro

.
você É
quem diz
SER??
e
de QUEM
é
esse SONHO??

você É
de fato
VO
??
ou seria...
o OUTRO??

o CRUEL
o lascivo
o desejoso...

-------------------------------------

Então vai!
Segue assim pensando
crente ser
melhor
que um cão
um cão RAIVOSO

Melhor
Queo
leproso
da esquina
- que abominas

Espera então
Que te ataquem a
MA-tilha
que te furem os olhos
que te cortem a língua
que te roubem os sonhos
que te matem o filhote

RAQUÍTICO!
De tripas vazias...

Espera até
que te
queimem
as ENT-RANHAS
que te escorra
a sa-liva
libidinoso...

Espera então
E verás
esse
OUTRO

EG

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Peço licença ao 'Texto'... A seguir, a 'Imagem' - na mais comovente e poética expressão da SAUDADE


.
SAFO, Fragmentos de um Poema
Tradução de Joaquim Fontes

"Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu peito!
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça;
sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas.
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos;
o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (...)"

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

REVIRANDO O BAÚ II



Série Sonhos de Criança
.
Poema publicado dia 4 de Março de 2009.
A propósito, uma sugestão muitíssimo querida:
El Tango de Roxanne, Moulin Rouge...

LA MUERTE


Sapatos de verniz
Pretos reluzentes

Pés que rodopiam...

Colam e descolam,
Colam...

e descolam

Rodopiam!
Deslizam...

Arrastam em meia-ponta
Arranham chão madeira
Rabiscam tortuosas curvas
Reforçam longas ranhuras

Meias pretas
Risco desponta
do tornozelo
Reto
Rumo ao infinito...
Cruza pantorrilha
Rígida!

E Juan D'Arienzo envolve
Visceral
Direto ao coração
El acordéon que suspira...
Quase sem fôlego
Rodopio!
E ela se aproxima
Rodopio!
E perfume que inebria...

Quadril voluptuoso
Do vértice lateral do vestido
segue côncavo da cintura
Glamuroso peito inflamado
A projetar-se para frente
Linha imaginária
com perna esquecida para trás,
Logo é puxada de volta
- e sofre!
Não quer voltar...

E o pescoço esguio...
Envolto em pérolas pálidas
Rodopios!!
Autoritário queixo
que dita as ordens!
E precipita os movimentos
Forte.
Pero que flutua...
A media luz...
Miseráveis mortais
e suas tristes sinas
Inexorável destino
Bonecos de cera
De mandíbulas arriadas...
E respiração suspensa

E agora o violino!
Que chora dor tão fina
Lamuriento!
Inconsolável
Por insignificante inseto
Entrelaçado
nas teias perigosas

Ainda há a rosa esquálida
trincada entre dentes
Semi desfalecida
Então não sabe se implora por liberdade
Ou por cruel-delicioso desfolhamento
doloroso
Lento...

Rodopio!
Rodopio!
Outro!
E outro!
Ela o tem a sua frente!
Olhos nos olhos.
Isso já é demais!
Coração dispara
Sangue congela
O frio pela espinha...
Esse olhar-punhal
envolto em sombra
esfumaçante
Uma lágrima escorre...
La dama padiece...
Ah... a consternação...
O golpe de misericórdia!

É chegada hora
A derradeira
Ao som de Juan D'Arienzo
Destinos selados
Irremediável
Dados atirados
La pasión...

A sorte é lançada.

EG

Homenagem ao Dia do Tango. Salve Gardel!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Salve Poe!

O CORVO, Edgar Allan POE. Tradução em prosa de Helder da Rocha (texto originalmente em verso: THE RAVEN)
.
Numa sombria madrugada, enquanto eu meditava, fraco e cansado, sobre um estranho e curioso volume de folclore esquecido; enquanto cochilava, já quase dormindo, de repente ouvi um ruído. O som de alguém levemente batendo, batendo na porta do meu quarto. "Uma visita," disse a mim mesmo, "está batendo na porta do meu quarto - É só isto e nada mais."

Ah, que eu bem disso me lembro, foi no triste mês de dezembro, e que cada distinta brasa ao morrer, lançava sua alma sobre o chão. Eu ansiava pela manhã. Buscava encontrar nos livros, em vão, o fim da minha dor - dor pela ausente Leonor - pela donzela radiante e rara que chamam os anjos de Leonor - cujo nome aqui não se ouvirá nunca mais.
.
E o sedoso, triste e incerto sussurro de cada cortina púrpura me emocionava - me enchia de um terror fantástico que eu nunca havia antes sentido. E buscando atenuar as batidas do meu coração, eu só repetia: "É apenas uma visita que pede entrada na porta do meu quarto - Uma visita tardia pede entrada na porta do meu quarto; - É só isto, só isto, e nada mais."

Mas depois minha alma ficou mais forte, e não mais hesitando falei: "Senhor", disse, "ou Senhora, vos imploro sincero vosso perdão. Mas o fato é que eu dormia, quando tão gentilmente chegastes batendo; e tão suavemente chegastes batendo, batendo na porta do meu quarto, que eu não estava certo de vos ter ouvido". Depois, abri a porta do quarto. Nada. Só havia noite e nada mais.
.
Encarei as profundezas daquelas trevas, e permaneci pensando, temendo, duvidando, sonhando sonhos mortal algum ousara antes sonhar. Mas o silêncio era inquebrável, e a paz era imóvel e profunda; e a única palavra dita foi a palavra sussurrada, "Leonor!". Fui eu quem a disse, e um eco murmurou de volta a palavra "Leonor!". Somente isto e nada mais.

De volta, ao quarto me volvendo, toda minh'alma dentro de mim ardendo, outra vez ouvi uma batida um pouco mais forte que a anterior. "Certamente," disse eu, "certamente tem alguma coisa na minha janela! Vamos ver o que está nela, para resolver este mistério. Possa meu coração parar por um instante, para que este mistério eu possa explorar. Deve ser o vento e nada mais!"
.
E.POE
.
.
Quadrinhos de Luciano Irrthum, para o poema "O Corvo", com tradução de Machado de Assis, a ser lançado esse mês pela editora Peirópolis. Fonte: Blog Zine Brasil

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Remexendo o baú: DECLARAÇÃO DE AMOR

.Publicado em 26 de Fevereiro de 2009.

Um favor?
Morre.

E poupa-me da tua
presença cretina
Dos caramelos hipnóticos
Dilacerantes!
Do meu ódio faminto,
do meu tesão salivante.
E daí que o pau é teu!?
Se ele não for capaz
de preencher minha
ânsia,
que sirva ao menos
aos vermes lascivos
Que rastejarão por teus
escrotos
corroendo tuas verdades
Carcomendo a
arrogância.
Morre vai!
Antes que o serviço
eu mesma faça

Com lágrimas nos olhos...

cravado na mandíbula
servido em pedacinhos
sorvido em único gole

Por favor, amor...
Morre.

EG

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Noite de Natal


Storyline
.
É véspera de Natal num café (bar) vazio e uma mulher misteriosa e solitária chega para um provável encontro. É pertubada por um bêbado inconveniente, vestido de papai-noel. Depois de fumar e beber muito, descontrolada, deixa o bar.

Personagens: Mulher, Bêbado e Barman.

Inspirado na música “Red Shoes by the Drugstore”, de Tom Waits
.
TRATAMENTO 2

1 - INT. CAFÉ - NOITE

Interior de um café vazio, decorado com enfeites de Natal; um blues toca. Do lado de dentro do balcão, o barman limpa uma taça com um pano branco.

Um mulher entra. Ela é jovem, morena, bonita, muito maquiada. Usa uma capa de chuva e sapatos vermelhos. Fecha seu guarda-chuva. Tira sua capa de chuva e os coloca no cabideiro ao lado da porta. Caminha em direção ao balcão.

Senta-se no balcão, abre a bolsa e tira um pequeno estojo de maquiagem. O espelho está quebrado. Confere a maquiagem e retoca o batom. Retira um cigarro da bolsa; que é aceso pelo barman. Olha apreensiva na direção da porta. Confere a hora no seu relógio de pulso e começa a fumar seu cigarro - cruza as pernas. Sapatos vermelhos.

O barman põe um cinzeiro a sua frente, chacoalha uma bebida; despeja o líquido num copo. Coloca o copo com a bebida próximo ao cinzeiro.

A mulher termina de fumar o cigarro. Apaga o resto no cinzeiro. Retira da bolsa uma caixa de presente, com uma fita vermelha. Coloca a caixa em cima da mesa e fixa o olhar na caixa.

Tic-tac de relógio.

A porta abre. Mulher olha apreensiva para a porta. Um homem gordo, vestido de Papai Noel, bêbado, entra cambaleante no bar. Molhado e com a fantasia descomposta, traz em uma das mãos o saco vermelho e na outra, uma garrafa de bebida. Mulher decepciona-se ao ver o homem de Papai Noel. Acende outro cigarro.

Papai Noel bêbado aproxima-se do balcão. Pede uma bebida ao barman. A bebida é preparada. O bêbado incomoda a mulher; irritada, ela o empurra.

O Papai Noel é reeprendido pelo barman, que lhe entrega a bebida e faz sinal pra que se afaste. O Papai Noel afasta-se e senta-se em uma das mesas.

Tic-tac de relógio.

A mulher acende outro cigarro. Chora. O barman lhe prepara outra bebida. Ela apaga outro cigarro no cinzeiro.

A mulher checa o relógio; olhos vermelhos e maquiagem borrada. Desespera-se.

Cambaleante, Papai Noel bêbado levanta-se da mesa, e, inconvenientemente, aproxima-se da mulher outra vez. A mulher abre a caixa de presente, retira uma pequena pistola prateada, levanta-se e atira várias vezes.

Papai Noel bêbado cai no chão, ensanguentado.

A mulher sai porta fora, cambaleante.

EG