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1 - INT. APARTAMENTO - DIA
Sala em desordem. Mesa com um lap top, uma pilha de papéis e uma uma garrafa de cerveja. Estante com muitos livros e CD’s. No chão, espalhados, mais livros (vários de mitologia grega) e alguns LP’s de música clássica. Ouve-se um solo de violão (Serenata do Adeus - Baden Powell e Vinícius de Moraes).
Sala em desordem. Mesa com um lap top, uma pilha de papéis e uma uma garrafa de cerveja. Estante com muitos livros e CD’s. No chão, espalhados, mais livros (vários de mitologia grega) e alguns LP’s de música clássica. Ouve-se um solo de violão (Serenata do Adeus - Baden Powell e Vinícius de Moraes).
PEDRO (V.O.)
Prazos!!! (pausa)... Escuta uma coisa importante Ivan: uma conclusão mal resolvida compromete a narrativa inteira! (pausa prolongada).
Pedro, quarenta anos de idade, está em pé, na janela, falando ao telefone, fumando um cigarro e olhando para rua, onde o trânsito é intenso. Está vestido de maneira relaxada; barba por fazer.
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PEDRO
Ivan, já disse, sem pressão! Essa mania terrível... Tudo se resume ao maldito lucro! E a Literatura meu caro? Como fica? La littérature! L'art, Ivan. L'art...
Ivan, já disse, sem pressão! Essa mania terrível... Tudo se resume ao maldito lucro! E a Literatura meu caro? Como fica? La littérature! L'art, Ivan. L'art...
Pedro caminha em direção à mesa e senta-se de frente pro computador. Dá um gole na garrafa de cerveja e olha para um texto na tela. Ao lado do computador um cinzeiro cheio de guimbas de cigarro.
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PEDRO (ainda ao telefone)
Dane-se o editor! Por que ele não vai pertubar o imortal? Fala pra ele que meu negócio é outro! É Literatura, meu caro! A propósito, ele sabe o que é isso? (pausa prolongada). Okay. Muito bem, conversamos amanhã (pausa). Tô calmo! Abraços.
Dane-se o editor! Por que ele não vai pertubar o imortal? Fala pra ele que meu negócio é outro! É Literatura, meu caro! A propósito, ele sabe o que é isso? (pausa prolongada). Okay. Muito bem, conversamos amanhã (pausa). Tô calmo! Abraços.
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Pedro desliga o telefone e transtornado, calça um sapato, pega um casaco e sai, batendo a porta.
2 - EXT. RUA - DIA
Pedro caminha pelas calçadas com expressão angustiada e desorientada. Esbarra em pessoas e atravessa rua correndo com o sinal de pedestre já piscando, prestes a fechar. Pára em frente a uma loja de instrumentos musicais e observa por alguns minutos violões expostos na vitrine.
2 - EXT. RUA - DIA
Pedro caminha pelas calçadas com expressão angustiada e desorientada. Esbarra em pessoas e atravessa rua correndo com o sinal de pedestre já piscando, prestes a fechar. Pára em frente a uma loja de instrumentos musicais e observa por alguns minutos violões expostos na vitrine.
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INSERT
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Uma mulher toca uma música erudita num violão - ela tem trinta e cinco anos, bonita.
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FIM INSERT
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Uma mão toca o ombro de Pedro. É o vendedor da loja que oferece ajuda com o produto da vitrine. Pedro agradece (a conversa não é ouvida).
Pedro volta a caminhar. Segue pelas ruas com expressão pensativa. Ao longe, em pé num ponto de ônibus, a mesma mulher do INSERT ANTERIOR (a que tocava violão). Os olhos de Pedro se enchem de lágrimas.
Pedro corre até ela, segura-a pelos ombros e olha diretamente em seu olhos. Os objetos que ela segura caem no chão. Aos poucos o rosto da mulher começa uma lenta transformação, até tornar-se um rosto que não é mais o da jovem do violão. Pedro solta-a. A mulher, assustada, empurra Pedro e afasta-se pra trás. Pedro abaixa-se e apanha os objetos no chão enquanto mantem o olhar fixo nela. Entrega os objetos a ela e pede desculpas (a conversa não é ouvida). Nervosa, a mulher pega seus pertences, vira-se e sai apressada, quase correndo
Pedro volta a caminhar, parecendo muito mais pertubado ainda. Muitas mulheres passam por ele e algumas delas momentaneamente têm os rostos transformados no rosto daquela que tocava violão, pra logo em seguida voltarem ao normal. Transtornado ele pára, segura a cabeça com as mãos e se desespera.
3 - INT. APARTAMENTO - NOITE
Pedro, deitado, levanta abruptamente o tronco da cama onde dorme. Quarto à penumbra. Permanece sentado na cama com olhar atônito. Cambaleante, levanta-se e caminha em direção a uma cozinha. Acende a luz, abre a geladeira e enche um copo com água. A cozinha é pequena e aparenta desordem. Pedro dirige-se à sala (mesma da CENA 1), levando o copo. Senta-se à mesa, de frente para o computador. Tela do computador com um texto.
Pedro volta a caminhar. Segue pelas ruas com expressão pensativa. Ao longe, em pé num ponto de ônibus, a mesma mulher do INSERT ANTERIOR (a que tocava violão). Os olhos de Pedro se enchem de lágrimas.
Pedro corre até ela, segura-a pelos ombros e olha diretamente em seu olhos. Os objetos que ela segura caem no chão. Aos poucos o rosto da mulher começa uma lenta transformação, até tornar-se um rosto que não é mais o da jovem do violão. Pedro solta-a. A mulher, assustada, empurra Pedro e afasta-se pra trás. Pedro abaixa-se e apanha os objetos no chão enquanto mantem o olhar fixo nela. Entrega os objetos a ela e pede desculpas (a conversa não é ouvida). Nervosa, a mulher pega seus pertences, vira-se e sai apressada, quase correndo
Pedro volta a caminhar, parecendo muito mais pertubado ainda. Muitas mulheres passam por ele e algumas delas momentaneamente têm os rostos transformados no rosto daquela que tocava violão, pra logo em seguida voltarem ao normal. Transtornado ele pára, segura a cabeça com as mãos e se desespera.
3 - INT. APARTAMENTO - NOITE
Pedro, deitado, levanta abruptamente o tronco da cama onde dorme. Quarto à penumbra. Permanece sentado na cama com olhar atônito. Cambaleante, levanta-se e caminha em direção a uma cozinha. Acende a luz, abre a geladeira e enche um copo com água. A cozinha é pequena e aparenta desordem. Pedro dirige-se à sala (mesma da CENA 1), levando o copo. Senta-se à mesa, de frente para o computador. Tela do computador com um texto.
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NARRAÇÃO (em off)
"Ele, o insignificante umbigo do universo, rodeado por gigantes. Foi pra isso que viveu todo esse tempo? Pra acabar assim?”.
"Ele, o insignificante umbigo do universo, rodeado por gigantes. Foi pra isso que viveu todo esse tempo? Pra acabar assim?”.
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Pedro incia uma digitação compulsiva. O texto na tela vai aumentando.
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NARRAÇÃO (cont.)
“...feito um pontinho no chão, envolto a uma multidão de fantasmas curiosos?”
“...feito um pontinho no chão, envolto a uma multidão de fantasmas curiosos?”
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Barulho de digitação.
Pedro bebe um gole de água. Som da digitação. Tela do computador. Frases vão sendo digitadas.
Pedro bebe um gole de água. Som da digitação. Tela do computador. Frases vão sendo digitadas.
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NARRAÇÃO (cont.)
“...flashes de um branco ofuscante. A figura dela é agora apenas um vulto. Quase já não é capaz de distingui-la nessa imensidão branca...”.
“...flashes de um branco ofuscante. A figura dela é agora apenas um vulto. Quase já não é capaz de distingui-la nessa imensidão branca...”.
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Pedro pára de digitar. Tela de computador. Pedro deleta o texto - frases começam a ser apagadas. Angustiado, observa a tela por alguns segundos. Com o mouse começa a vasculhar arquivos no computador. Abre um arquivo com fotos. Na tela, várias fotos de Pedro abraçado à jovem que tocava violão (no INSERT da CENA 2). Seu nome é Marília. Pedro detem-se numa foto em especial. Na foto, Marília está sorrindo, enrolada em um lençol, com a mão estendida em direção à câmera - evitando ser fotografada. Luz de flash. Marília passa a se movimentar na foto.
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FLASHBACK
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4 - INT. APARTAMENTO - DIA
Marília enrolada em um lençol, sentada numa cama, levanta-se e anda em direção a uma câmera que dispara flashes. A câmera é manuseada por Pedro (em off).
Marília enrolada em um lençol, sentada numa cama, levanta-se e anda em direção a uma câmera que dispara flashes. A câmera é manuseada por Pedro (em off).
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MARÍLIA
Seu monstro. Me dá isso! Deleta, vai.
Seu monstro. Me dá isso! Deleta, vai.
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PEDRO (em off)
E por que eu faria isso?
E por que eu faria isso?
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MARÍLIA
(rindo e tentando pegar a câmera)
Que tal porque tô pedindo? Motivo razoável, não?
PEDRO (em off)
Sabe que nem tanto? Acho que você não está se esforçando o suficiente.
(rindo e tentando pegar a câmera)
Que tal porque tô pedindo? Motivo razoável, não?
PEDRO (em off)
Sabe que nem tanto? Acho que você não está se esforçando o suficiente.
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Marília ri e se esforça ainda mais pra pegar a câmera, que continua disparando flashes.
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MARÍLIA
Então que tal um motivo mais ortodoxo?
PEDRO (em off)
Exemplo?
MARÍLIA
Tipo... Vejamos... Um olho roxo. Que tal? Anda Pedro, não tá vendo como tô descabelada!
Então que tal um motivo mais ortodoxo?
PEDRO (em off)
Exemplo?
MARÍLIA
Tipo... Vejamos... Um olho roxo. Que tal? Anda Pedro, não tá vendo como tô descabelada!
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Pedro abraça Marília.
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PEDRO
Adoro mulheres persuasivas. Sobretudo se descabeladas, gostosas e na minha cama. E roxo é uma cor que não me cai bem.
MARÍLIA
Ótimo. Temos um acordo então. Até que você não é de todo mal, sabia? Seu escritor maluquinho.
Adoro mulheres persuasivas. Sobretudo se descabeladas, gostosas e na minha cama. E roxo é uma cor que não me cai bem.
MARÍLIA
Ótimo. Temos um acordo então. Até que você não é de todo mal, sabia? Seu escritor maluquinho.
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Os dois caem na cama e se beijam.
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PEDRO
Te amo tanto...
MARÍLIA
Eu um pouco mais...
Te amo tanto...
MARÍLIA
Eu um pouco mais...
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FIM FLASHBACK
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4 - INT. MUSEU - DIA
Interior de um museu de arte, Pedro observa alguns quadros. De repente sai da sala de exposição e vai para o corredor atender ao celular. O corredor é longo e vazio. Pedro caminha por ele, falando ao telefone.
Interior de um museu de arte, Pedro observa alguns quadros. De repente sai da sala de exposição e vai para o corredor atender ao celular. O corredor é longo e vazio. Pedro caminha por ele, falando ao telefone.
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PEDRO
Eu sei Ivan. Cara, não sei mais como explicar! Então marca uma reunião com o editor porra. Eu mesmo renegocio esse prazo com ele...
Eu sei Ivan. Cara, não sei mais como explicar! Então marca uma reunião com o editor porra. Eu mesmo renegocio esse prazo com ele...
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Pedro pára de repente com uma expressão assustada. Um solo de violão inicia (música: "Serenata do Adeus", de Baden Powell e Vinícius de Moraes). Devagar Pedro tira o celular do ouvido e permanece por alguns segundos imóvel. Sua expressão fica cada vez mais tensa. Inicia uma caminhada rápida, as vezes com corridas curtas. O corredor é longo, vazio - lembra um labirinto. A música fica mais forte. Som dos passos e da respiração ofegante de Pedro, que chega à porta de um pequeno auditório, cheio.
No centro do palco, Marília toca um violão. Ele permanece em pé, à porta, com olhar estupefato. A música acaba. A plateia aplaude.
No centro do palco, Marília toca um violão. Ele permanece em pé, à porta, com olhar estupefato. A música acaba. A plateia aplaude.
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PEDRO
Marília!
Marília!
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EG
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