quarta-feira, 4 de março de 2009

La Muerte...

Sapatos de verniz
Pretos reluzentes

Pés que rodopiam...

Colam e descolam,
Colam...

e descolam

Rodopiam!
Deslizam...

Arrastam em meia-ponta
Arranham chão de madeira
Rabiscam tortuosas curvas
Reforçam antigas ranhuras

Meias pretas.
Risco que desponta
do tornozelo
Reto
Rumo ao infinito...
Cruza pantorrilha
Rígida!

E Juan D'Arienzo envolve
Visceral
Direto ao coração
El acordéon que suspira...
Quase sem fôlego
Rodopio!
E ela se aproxima
Rodopio!
E perfume
que inebria...

Quadril voluptuoso.
Do vértice lateral do vestido
segue côncavo da cintura
E o glamuroso peito inflamado
A projetar-se para frente
Traço de linha imaginária
com perna esquecida para trás,
Que logo é puxada de volta
- e sofre!
Não quer voltar...

E o pescoço esguio...
Envolto em pérolas pálidas
Rodopios!!
Autoritário queixo
que dita as ordens!
E precipita os movimentos
Forte.
Pero que flutua...
A media luz...
Miseráveis mortais
e suas tristes sinas
Inexorável destino
Bonecos de cera
De mandíbulas arriadas...
E respiração suspensa

E agora o violino!
Que chora dor tão fina
Lamuriento!
Inconsolável
Por insignificante inseto
Entrelaçado
nas teias perigosas

Ainda há a rosa esquálida
trincada entre dentes
Semi desfalecida
Não sabe então
se implora por liberdade
Ou por cruel desfolhamento
doloroso
Lento...

Rodopio!
Rodopio!
Outro!
E outro!
Ela o tem a sua frente!
Olhos nos olhos.
Isso já é demais!
Coração dispara
Sangue congela
O frio pela espinha...
Esse olhar-punhal
envolto em sombra escura
A maquiagem esfumaçante
Uma lágrima escorre...
La dama padiece...
Ah... a consternação...
O golpe de misericórdia

É chegada hora
Derradeira
Ao som de Juan D'Arienzo
Destinos selados
Irremediável
Dados atirados
La pasión...

A sorte é lançada.

EG

A propósito...

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