segunda-feira, 30 de março de 2009

PULSÃO E RENÚNCIA

Foto: Pedro Meyer
Still Cena 9
Atores: Bruce Araujo (Jacques) e Ana Luisa Leite (Lourdes)


* Curta Metragem em fase de pós-produção. Direção: Philippe Bastos. Direção de Fotografia: Pedro Meyer. Direção de Arte: Martine Brillard. Produção de Elenco: João da Hora. História Original e Roteiro: EGibson

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1 - TELA ESCURA
Som de canto Gregoriano. Letreiro com o nome do filme. A tela começa a clarear. Um chicote bate violentamente em costas ensanguentadas. Seguido a cada chicotada, som de gemido abafado.

ESCURECIMENTO

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2 - INT. CORREDOR/CELA MOSTEIRO – NOITE
Corredor COM POUCA LUZ. Portas de ambos os lados. Um monge sineiro passa tocando uma sineta.

3 - INT. CELA MOSTEIRO – NOITE
Quadro na parede com OLHAR de Jesus Cristo com coroa de espinhos - ele tem mãos perfuradas. Pequena janela aberta. Luz da lua. BARULHO DE SINETA ficando cada vez mais fraco, afastando-se. Quarto com decoração simples, com pouca mobília - uma cama de solteiro, uma cruz de madeira na parede, uma pia pequena e um criado mudo com uma uma bíblia e uma vela. DEITADO NO CHÃO DO QUARTO, numa esteira ao lado da cama, JACQUES - rapaz por volta de vinte e dois anos, magro, alto e pálido, vestido com uma camisola comprida de monge e um crucifixo de madeira no peito. Jacques põe-se de joelhos, faz o sinal da cruz, reza um pouco de cabeça baixa. Após alguns segundos, levanta-se, tira a camisola, vai até a pia e lava o rosto – SUAS COSTAS TÊM MARCAS RECENTES.

4 - INT. GALINHEIRO – DIA (Ao amanhecer)
SOM DE CACAREJOS DE GALINHAS. LÚCIO, cozinheiro do mosteiro, homem bronco, por volta de cinquenta e cinco anos de idade, tatuagem no braço, tenta apanhar uma galinha no meio de várias. Apanha uma. Segura-a pelas asas e coloca-a dentro de um cesto, onde já existe uma outra.

A. Uma faca é amolada numa pedra.

B. Pescoço de galinha sendo cortado – o sangue aparado num recipiente.

C. Galinha presa pelos pés é retirada de uma panela fervendo.

D. Galinha sendo depenada.

5 - INT. CORREDOR/BIBLIOTECA – DIA
A. Um monge caminha pelo corredor de um pátio vazio. OLHAR de estátuas de santos espalhadas pelo corredor. Silêncio, apenas o BARULHO DE SUAS PASSADAS. O monge chega ao final do corredorr e entra por uma porta.

B. uma biblioteca grande, onde, sentado e lendo um livro, está Jacques. O monge da sequência anterior - do corredor - aproxima-se de Jacques e lhe sussura algo.

6 - INT. SALA – DIA
Sala com móveis de madeira, estantes com muitos livros. OLHAR de Jesus Cristo, crucificado. No meio da sala, uma mesa ocupada por ABADE JOSÉ – homem por volta de setenta anos, de cabelos brancos, ligeiramente corcunda. Jacques está parado a sua frente.

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ABADE JOSÉ
Depois de amanhã por certo estarão novamente aqui para vê-lo.

JACQUES
Senhor, acredito que ainda não seja a hora.

ABADE JOSÉ
Filho, sua dedicação é admirável. Mas por um instante tente se colocar na posição de seus entes queridos. Eles sofrem. Não espere deles tanto desprendimento. Ver você por alguns minutos será um alento aos seus corações.

JACQUES
Por favor Abade José. Há um caminho longo a ser percorrido. Não me peça por favor pra ter contato com o mundo. Não agora.

ABADE JOSÉ
Muito bem filho; sendo assim cuidarei pra que sua família compreenda sua decisão.

JACQUES
Eu agradeço Abade. Substituirei o dia de visita pela clausura e meditação. Sua licença.

ABADE JOSÉ
Como queira filho, pode ir agora.

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Jacques vira-se, e quando está próximo à porta, é chamado pelo Abade. Jacques volta-se para o Abade.

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ABADE JOSÉ
Jacques. A partir de agora gostaria que você trocasse algumas horas de sua meditação matutina por ajuda ao Lúcio na cozinha. Um pouco mais de atividade comunitária lhe fará bem. Assim como acredito que fará bem a Lúcio a sua companhia. Essa pobre alma...

JACQUES
Sim senhor Abade.

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Jacques vira-se e sai da sala.
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7 - INT. COZINHA – DIA
Cozinha industrial, ampla e com vários armários. No centro, uma mesa grande com um cesto de maçãs. Fogão antigo, de seis bocas, com panelas grandes no fogo. Lúcio, de avental e lenço na cabeça, corta uma galhinha com uma faca. Jacques, também de avental e lenço na cabeça, retira feijão de um saco grande e enche um pote grande de mantimentos. Jacques observa Lúcio.

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JACQUES
Como você suporta?

LÚCIO
(sem parecer interessado na conversa)
Do que você tá falando?

JACQUES
A consciência, o peso... Interromper a vida de uma serva de Deus.

LÚCIO
Paguei o que a sociedade me exigiu, não? Todos aqueles intermináveis anos de prisão...(pausa) Me parece um preço justo.

JACQUES
E quanto ao que será cobrado no juízo final? Não teme?

LÚCIO
(sem desviar o olhar pra Jacques)
Invencionícies. Arte criada pelo homem pra se afastar do homem.

JACQUES
Pra alcançar o divino.

LÚCIO
A fera acorrentada.

JACQUES
O homem nasce bom, Lúcio.

LÚCIO
O homem deseja.

JACQUES
A fé o liberta do mal. E alivia seu coração.

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Detalhe na galinha sendo cortada. Jacques acaba de encher o recipiente e amarra o saco de feijão. Jacques joga o saco nas costas com dificuldade.

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LÚCIO
É como todos se sentem aqui? Livres?

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Jacques deixa a cozinha carregando o saco nas costas.

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EG

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