Tento te dar minha mão e te puxar, mas minha mão não te alcança. Então apanho um galho qualquer - escolho um bem comprido - mas ele também não é longo o suficiente. Meu desespero em não poder fazer nada. Essa areia engolideira que vai te tragando aos poucos, lentamente... Será que deveria entrar e me deixar ser engolida contigo? Seria melhor do que te assistir nesse triste afundamento. Eu, que sempre te cuidei, que te alimentei e banhei. Sabias que morri de ciúmes quando tu chegaste? Já te contei isso? Temi perder meu trono. Até te ameacei com uma surra. Mas aos poucos fui te acolhendo. Fui cedendo ao teu choro estridente, às covinhas nas tuas bochechas, ao teu jeito de se encabular e baixar o olhar quando chegava visita. Tão pequeno. Queria do fundo do meu coração poder te dar uma surra agora, nesse exato momento. Uma daquelas, de arrancar o couro! Com esse galho mesmo que tenho aqui nas mãos, tentando te puxar desse pântano. Prometo por tudo que é sagrado que se conseguir te arrancar daí, teu couro ficará em carne viva. E arranco também uma orelha, de tanto que vai ser torcida. Quase como fazia antigamente, quando tu aprontavas das tuas. E eu, tão autoritária e tirana, jamais perdoava... Mas tu não choravas nunca, mesmo diante de terríveis bordoadas. Ficavas quieto, calado, com o olhar torto, meio de lado. Que me matava aos poucos... Queria poder ter aquele olhar desconfiado de novo. E também as covinhas. E não esse olhar que afunda, que já quase não consigo ver, misturado à viscosidade dessa areia gulosa. Imunda. Por favor, fica quieto então, não faz nenhum movimento brusco.
Elke
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