terça-feira, 19 de maio de 2009

DECRETO AMAZÔNICO

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"Canta ó Musa a ira de Aquiles, filho de Peleu, que incontáveis males trouxe às hostes dos aqueus..." *
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Tendo consultado-me, pois, com minha adorada e muitíssimo respeitada Senhora Loucura, faço saber que, do alto de minha tirania para todo sempre irascivelmente apaixonada (frisando!), decreto banidos deste modesto, acanhado e ilusório espaço, sapiências, virtuosidades, aconselhamentos, certezas, retóricas, caretices e cartesianismos de toda e qualquer espécie!!! Fora daqui o argumento, o bom senso, a prudência. Fora daqui o real e a linha reta! Poder ora outorgado-me, se não pela minha condição de poeta, muito a desejar (perdão mais uma vez ó Musa do verso!), então pela minha condição IRREFUTÁVEL de MULHER (grifando: MULHER! Não mulherzinha bajuladora, ou de plástico, ou garota ou menina - ou uma merda de dama ou diva). Dispensados estão a bolsa, o esmalte, o corretivo de olheiras, a chapinha. O batom e o salto (de onde já há muito desci!!). Mantendo-se apenas minhas estimadas parcerias, a cólera, o ódio, o ciúme, a ira. O apego SIM, a violência voluptuosa e lasciva, o tesão, o gozo - sempre misturado à saliva. Não por ser mulher bem amada, mulher bem criada ou mulher bem comida, QUE SE DIGA, mas por ter sido criada num campo de batalha (salve ancestrais Amazonas!), envolta a corpos, ossos e tripas, e por nem sempre bem amar, mas SEMPRE bem COMER. Não com talheres e guardanapos, sentada graciosa, maquiada e ereta à mesa, esperando ser servida. Mas tomando e arrancando o alimento com as próprias garras, rasgando nas presas pontudas as suculentas carnes. Com a boca escorrendo. Como um espírito a um passo da guerra, ou que acaba de chegar de um deserto. Furiosa e faminta.

E tenho dito!

EG
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* Trecho inicial do Canto I, de Ilíada (Homero).

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