segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
sábado, 26 de dezembro de 2009
"Por tua causa desespero e morro..."
"Por que Mentias?" de Álvares de Azevedo
poema declamado por Gabriel Braga, em novela da Record
Via Laís Azevedo, Blog Literatura em Foco
"Eu morro."
REPUBLICANDO
VENTANIA,
bateu de novo e te arrastou de vez...
.
Por gigantescas
arenosas montanhas
tortuosas escaldantes
do deserto amarelado
que por séculos caminho
- com SEDE,
- com FOME,
vislumbro
bruxuleantes oásis
AluCinógEnoS
de carinho.
Refrescantes
tendas de amizade
- e bem querer,
onde imagino
poder
aliviar a secura
repousar
cética mortalha,
cansada
- há tempos abatida.
Mas logo
a repugnante realidade
na figura de
implacável furiosa
tempestade
pra longe
me arrasta
da visão enganosa
- desfaz-se desejosa fantasia...
Chicoteia
meu corpo
Impiedosa!
- sarcástica, cínica
num ciclone
de ventos cortantes
que dilaceram
meus fios de esperança
Lábios descamados, garganta ferida...
retomo minha sina.
E por mais mil séculos
carrego
esses ásperos malditos
grãos de areia da verdade
que me arranham,
- incômodos
entranhados
nos póros
cabelos e olhos
Na boca.
Nariz e ouvido.
Na miserável ínfima frágil estima.
EG
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
TIRANA
sem alma
sem trono
sem coroa
nem graça
nunca-louvada
e já muito vivida
Só lembranças
de reinados
antigos
que vertidos
em prosa&poesia
me preenchem
em retalhos a vida
Se me proibem
a rima que
escorre sofrida
quem sou eu?
Diga...
- miserenta
- maldita
que SÓ de
passados
suspira
Vai
Me deixa em paz!
Não sou como tu!!!
De garras certeiras
realeza da vez
poderosa e feliz!
EGOÍSTA!!
Pois todo tesouro de mil terras
O mais precioso entre as preciosidades
- o amor do meu amor...
em tuas torres
de muralhas-virtudes
já enclausuraste!
O que queres ainda
de uma rainha
em farrapos
sem manta
e deposta?
Ergue teu cetro
TIRANA!
Lê teu decreto
Imploro...
Por tua
loura coroa!
Me curvo em joelhos,
se é teu desejo
teus pés até beijo
Criatura cruel em pele
de santa,
- aos olhos dele
perfeita!
Ateia
tua brasa ardida
no lombo
de pobre-diaba
que tua tão graciosa
felicidade real
incomoda...
Melhor o ferro!
o fogo!
Antes perfures meu olho!
Do que queimar meus castelos,
- de saudades...
Do que estancar o meu berro
ou impedir-me que o ame
Do que calares meu
VERSO
Amar & Versar
sinto, vil majestade
são súditos meus!
não me podes pilhar
é tudo que tenho
é todo meu reino
É SÓ
o que prezo
EG,
Set/2009
PERU DE NATAL
EG
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
REMEXENDO BAÚ (III? IV?)

Corsária facínora
é logo atirada
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
outro
você É
quem diz
SER??
e
de QUEM
é
esse SONHO??
você É
de fato
VO
CÊ??
ou seria...
o OUTRO??
o CRUEL
o lascivo
o desejoso...
-------------------------------------
Então vai!
Segue assim pensando
crente ser
melhor
que um cão
um cão RAIVOSO
Melhor
Queo
leproso
da esquina
- que abominas
Espera então
Que te ataquem a
MA-tilha
que te furem os olhos
que te cortem a língua
que te roubem os sonhos
que te matem o filhote
RAQUÍTICO!
De tripas vazias...
Espera até
que te
queimem
as ENT-RANHAS
que te escorra
a sa-liva
libidinoso...
Espera então
E verás
esse
OUTRO
EG
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Peço licença ao 'Texto'... A seguir, a 'Imagem' - na mais comovente e poética expressão da SAUDADE

"Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu peito!
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça;
sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas.
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos;
o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (...)"
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
REVIRANDO O BAÚ II

El Tango de Roxanne, Moulin Rouge...
LA MUERTE
Sapatos de verniz
Pretos reluzentes
Pés que rodopiam...
Colam e descolam,
Colam...
e descolam
Rodopiam!
Deslizam...
Arrastam em meia-ponta
Arranham chão madeira
Rabiscam tortuosas curvas
Reforçam longas ranhuras
Meias pretas
Risco desponta
do tornozelo
Reto
Rumo ao infinito...
Cruza pantorrilha
Rígida!
E Juan D'Arienzo envolve
Visceral
Direto ao coração
El acordéon que suspira...
Quase sem fôlego
Rodopio!
E ela se aproxima
Rodopio!
E perfume que inebria...
Quadril voluptuoso
Do vértice lateral do vestido
segue côncavo da cintura
Glamuroso peito inflamado
A projetar-se para frente
Linha imaginária
com perna esquecida para trás,
Logo é puxada de volta
- e sofre!
Não quer voltar...
E o pescoço esguio...
Envolto em pérolas pálidas
Rodopios!!
Autoritário queixo
que dita as ordens!
E precipita os movimentos
Forte.
Pero que flutua...
A media luz...
Miseráveis mortais
e suas tristes sinas
Inexorável destino
Bonecos de cera
De mandíbulas arriadas...
E respiração suspensa
E agora o violino!
Que chora dor tão fina
Lamuriento!
Inconsolável
Por insignificante inseto
Entrelaçado
nas teias perigosas
Ainda há a rosa esquálida
trincada entre dentes
Semi desfalecida
Então não sabe se implora por liberdade
Ou por cruel-delicioso desfolhamento
doloroso
Lento...
Rodopio!
Rodopio!
Outro!
E outro!
Ela o tem a sua frente!
Olhos nos olhos.
Isso já é demais!
Coração dispara
Sangue congela
O frio pela espinha...
Esse olhar-punhal
envolto em sombra
esfumaçante
Uma lágrima escorre...
La dama padiece...
Ah... a consternação...
O golpe de misericórdia!
É chegada hora
A derradeira
Ao som de Juan D'Arienzo
Destinos selados
Irremediável
Dados atirados
La pasión...
A sorte é lançada.
EG
Homenagem ao Dia do Tango. Salve Gardel!
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Salve Poe!
Numa sombria madrugada, enquanto eu meditava, fraco e cansado, sobre um estranho e curioso volume de folclore esquecido; enquanto cochilava, já quase dormindo, de repente ouvi um ruído. O som de alguém levemente batendo, batendo na porta do meu quarto. "Uma visita," disse a mim mesmo, "está batendo na porta do meu quarto - É só isto e nada mais."
Ah, que eu bem disso me lembro, foi no triste mês de dezembro, e que cada distinta brasa ao morrer, lançava sua alma sobre o chão. Eu ansiava pela manhã. Buscava encontrar nos livros, em vão, o fim da minha dor - dor pela ausente Leonor - pela donzela radiante e rara que chamam os anjos de Leonor - cujo nome aqui não se ouvirá nunca mais.
Mas depois minha alma ficou mais forte, e não mais hesitando falei: "Senhor", disse, "ou Senhora, vos imploro sincero vosso perdão. Mas o fato é que eu dormia, quando tão gentilmente chegastes batendo; e tão suavemente chegastes batendo, batendo na porta do meu quarto, que eu não estava certo de vos ter ouvido". Depois, abri a porta do quarto. Nada. Só havia noite e nada mais.
Encarei as profundezas daquelas trevas, e permaneci pensando, temendo, duvidando, sonhando sonhos mortal algum ousara antes sonhar. Mas o silêncio era inquebrável, e a paz era imóvel e profunda; e a única palavra dita foi a palavra sussurrada, "Leonor!". Fui eu quem a disse, e um eco murmurou de volta a palavra "Leonor!". Somente isto e nada mais.
De volta, ao quarto me volvendo, toda minh'alma dentro de mim ardendo, outra vez ouvi uma batida um pouco mais forte que a anterior. "Certamente," disse eu, "certamente tem alguma coisa na minha janela! Vamos ver o que está nela, para resolver este mistério. Possa meu coração parar por um instante, para que este mistério eu possa explorar. Deve ser o vento e nada mais!"
Quadrinhos de Luciano Irrthum, para o poema "O Corvo", com tradução de Machado de Assis, a ser lançado esse mês pela editora Peirópolis. Fonte: Blog Zine Brasil
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Remexendo o baú: DECLARAÇÃO DE AMOR
Um favor?
Morre.
E poupa-me da tua
presença cretina
Dos caramelos hipnóticos
Dilacerantes!
Do meu ódio faminto,
do meu tesão salivante.
E daí que o pau é teu!?
Se ele não for capaz
de preencher minha
ânsia,
que sirva ao menos
aos vermes lascivos
Que rastejarão por teus
escrotos
corroendo tuas verdades
Carcomendo a
arrogância.
Morre vai!
Antes que o serviço
eu mesma faça
Com lágrimas nos olhos...
cravado na mandíbula
servido em pedacinhos
sorvido em único gole
Por favor, amor...
Morre.
EG
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Noite de Natal

Personagens: Mulher, Bêbado e Barman.
Inspirado na música “Red Shoes by the Drugstore”, de Tom Waits
1 - INT. CAFÉ - NOITE
Interior de um café vazio, decorado com enfeites de Natal; um blues toca. Do lado de dentro do balcão, o barman limpa uma taça com um pano branco.
Um mulher entra. Ela é jovem, morena, bonita, muito maquiada. Usa uma capa de chuva e sapatos vermelhos. Fecha seu guarda-chuva. Tira sua capa de chuva e os coloca no cabideiro ao lado da porta. Caminha em direção ao balcão.
Senta-se no balcão, abre a bolsa e tira um pequeno estojo de maquiagem. O espelho está quebrado. Confere a maquiagem e retoca o batom. Retira um cigarro da bolsa; que é aceso pelo barman. Olha apreensiva na direção da porta. Confere a hora no seu relógio de pulso e começa a fumar seu cigarro - cruza as pernas. Sapatos vermelhos.
O barman põe um cinzeiro a sua frente, chacoalha uma bebida; despeja o líquido num copo. Coloca o copo com a bebida próximo ao cinzeiro.
A mulher termina de fumar o cigarro. Apaga o resto no cinzeiro. Retira da bolsa uma caixa de presente, com uma fita vermelha. Coloca a caixa em cima da mesa e fixa o olhar na caixa.
Tic-tac de relógio.
A porta abre. Mulher olha apreensiva para a porta. Um homem gordo, vestido de Papai Noel, bêbado, entra cambaleante no bar. Molhado e com a fantasia descomposta, traz em uma das mãos o saco vermelho e na outra, uma garrafa de bebida. Mulher decepciona-se ao ver o homem de Papai Noel. Acende outro cigarro.
Papai Noel bêbado aproxima-se do balcão. Pede uma bebida ao barman. A bebida é preparada. O bêbado incomoda a mulher; irritada, ela o empurra.
O Papai Noel é reeprendido pelo barman, que lhe entrega a bebida e faz sinal pra que se afaste. O Papai Noel afasta-se e senta-se em uma das mesas.
Tic-tac de relógio.
A mulher acende outro cigarro. Chora. O barman lhe prepara outra bebida. Ela apaga outro cigarro no cinzeiro.
A mulher checa o relógio; olhos vermelhos e maquiagem borrada. Desespera-se.
Cambaleante, Papai Noel bêbado levanta-se da mesa, e, inconvenientemente, aproxima-se da mulher outra vez. A mulher abre a caixa de presente, retira uma pequena pistola prateada, levanta-se e atira várias vezes.
Papai Noel bêbado cai no chão, ensanguentado.
A mulher sai porta fora, cambaleante.
EG
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Inspiração para a Sexta...
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
25 de Novembro...
domingo, 22 de novembro de 2009
GUERREIRO II
...é chegado o dia
em que
o GUERREIRO
se curva.
Diante um sol
que lhe derrete
a armudura
- outrora perene
Que tal sol
generoso,
não te derreta
a bravura
Que te
sacie
toda
sede,
te acalente
as agruras
E frente ao
inimigo,
não te
ofusque
os olhos!
Que te
pegue
no colo...
Que reluza
à altura
dos teus sonhos...
e luta.
Meu coração em prantos
que em tua mão
pulsa,
sorri
e torce por ti,
meu guerreiro-guri
Segue avante!
E de agora em diante
se houver em tua vida
única noite sombria
olha pro alto
e te farei um afago
e te darei companhia
- TUA PUTA SOTURNA,
Pra sempre SÓ,
Pra sempre TUA,
sem brilho
sem estrela
Por ora minguante
Por ora,
ainda turva.
Elke Gibson
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Muita Saudade... Republicando1: DEUS LHE PAGUE
http://msgibson-eg.blogspot.com/2009/03/deus-lhe-pague.html
De preferência ouvir isso:
http://www.esnips.com/doc/f362b7f7-1c56-4ec4-88bc-473842a31f17/Chico-Buarque---Construção
domingo, 15 de novembro de 2009
SURFISTA AMADOR

Muito tempo se passou desde minha primeira vez. Hoje já sei bem o que me espera ao ouvir o murmúrio, mas tenho aprendido a compor junto com ELA, já que não é mesmo possível estar em terra firme, sentado, contemplativo, em segurança junto a tantos afortunados. Descobri que minha pequena e insignificante mão composta de tão frágeis dedos, ao tocá-la só bem de leve, como leme, me ajuda a manter algum equilíbrio me dando uma direção dentro desse turbilhão que me quer sempre esmagar. Já dá pra rabiscar no ar algumas manobras dignas de admiração, assistidas pelos afortunados lá da areia. O contato com os corais e rochas ficaram menos frequentes. Já nem sempre me sucede um rastro salgado de sangue.
EG
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Mimo de um Amor Incondicional
"A você, meu eterno puto...
Se eu pudesse,
e você deixasse
te enviaria mimo
que também lambuzasse
mas quente e molhada
embrulhada de presente
com um laço,
um cartão
e meu amor em desapego
e ficaria daqui
a imaginar
teu deleite...
Por enquanto,
só vai chocolate"
Naquela tarde não conseguiu terminar seus relatórios.
EG
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Coleções de Infância
- ele e seu brinquedo
por vielas esburacadas
sacudindo sua pet,
o pivete,
catava todas que via...
Zunia!
"mais uma pra coleção",
o guri matutava...
SORRIA
Mas logo a mãe berrava
"pra casa!
moleque de miolo mole
pensa que é de aço?
tiro não escolhe"
E o moleque corria...
Sua garrafa
recheada
das cápsulas
que catava
ao redor do seu
portão
Até que
belo dia
completou
a coleção
CATOU A ESPECIAL
Mãe gritou!
"ô moleque desobediente"
já não ouvia!
já não catava!
- já não sonhava
pra nossa ruína
pra nossa humana desgraça
essa não guardou na pet
Essa ele levou no
PEITO
Dessa não correu não.
EG
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Comemorações
Cinta liga, espartilho e tubinho preto ainda esperavam na caixa.
EG
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
BETH COBRA
_ Então Sra. Beth. Conseguiu lembrar de algum nome?
Acenou com a cabeça que não. Murmurou algo, não compreendido por seu anjo de jaleco. E tudo escureceu novamente.
Sonhou. E no sonho atormentado conseguiu distinguir a figura de uma mulher com o olhar mais repreensor que testemunhara na vida. Prestando mais atenção, Beth percebeu que ainda usava vestido. Um vestido florido que odiava, costurado numa máquina antiga de pedal de ferro. O detalhe do pé de sua mãe subindo e descendo hipnoticamente naquele pedal. Ponta, calcanhar. Ponta, calcanhar... Sim, sua própria mãe coseu o tal vestido de flores que tanto odiava, grintando pra que voltasse pra dentro de casa e largasse a maldita bola. Ou tempos depois, gritando pra que nunca mais voltasse. E assim lá se vão quase trinta e cinco anos desde que resolveu obedecer às últimas categóricas ordens - então com quinze anos.
Sete dias depois e as descamações no teto pareciam ter aumentado. Já não se sentia assim tão tonta. As agulhadas a fortaleceram - sempre fortalecem. Só precisava muito sair dali. Seu gato, coitado, a essa altura já deve estar duro, morto por inanição. Mas seu anjo de jaleco branco dizia que não era possível partir, a não ser mediante a tal assinatura. Pra que diabos precisava de uma autorização pra ir embora? Nunca alguém havia se responsabilizado por nada, por que haveria de ser diferente agora? Não era uma questão de amnésia, ela simplesmente não tinha um um nome pra aporrinhar. E seu anjo parecia não compreender isso. Não havia um nome disponível, disposto a se abalar até o hospital só pra dar um rabisco num papel idiota, cuja existência e obrigatoriedade só serviam pra lhe esfregar na cara sua total e completa solitude. Precisava ir embora. Mas quem haveria de se importar? Assim como chegou trazida unicamente por suas pernas e acompanhada apenas por uma enorme dor no peito, também deveria sair por conta própria. De relance viu os peitos volumosos do seu anjo, pela brecha aberta entre um botão e outro enquanto delicadamente era servida sua sopa. A visão a deixou em êxtase. E se convenceu de que ali era o céu. Parou de buscar um nome. Parou de desejar voltar ao convívio de ausências, em seu deserto amarelado.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
ALOZIAS - o cara
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Em construção...
O som que me recepcionou ao chegar no edifício RAJAH era assim. Algo entre o choro e o êxtase. Um grunido lamuriento e ao mesmo tempo lascivo, que percorria os canais auditivos e me chegava até os ossos, como que fossem trincá-los. Fazia frio. Dia daqueles cinzentos que tanto aprecio. Caminhei por aquele corredor comprido, recheado de portas, cada uma abrigando seu próprio quinhão de originalidade e mistério, que tanto me excitava e me alimentava a alma de escritora maldita. Vontade tinha eu de irromper uma por uma, coberta, se possível, por algum manto invisível e protetor que me permitisse penetrar sem ser percebida naqueles cubículos – claro que deveriam ser cubículos – generosos em histórias que nunca foram lidas, jamais degustadas. E pra que serve então uma história de terror se nunca ninguém, além dos afortunados e extraordinários personagens, tomou conhecimento? Não. Era pra isso que eu estava ali. Era meu dever escancarar todas aquelas portas, uma a uma, expondo à humanidade os inúmeros e sórdidos detalhes escondidos em recônditos mais impensáveis e deliciosos. A simples visão das portas enfileiradas me fazia tremer de pavor e arrebatamento. Quanto fartura, pensei... Cheguei a salivar de alegria.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
1701
Ilustracao: Alexandre Mendes
BLOG REBOCO CAIDO, http://rebococaido.blogspot.com/2009/10/1701.html
Ao abrir a porta, o senhor que mora em frente abriu a janelinha.
- Boa tarde, princesa!
Coitado. Deve passar o dia esperando eu abrir a porta para olhar pela janelinha com aquela cara de tarado e me saudar com suas frases feitas. Balancei a cabeça com um sorriso cínico e prossegui. O elevador ainda estava com defeito. A proprietária deveria abater isto no aluguel. Um dos argumentos usados para cobrar esse absurdo por mês, foi o fato do prédio ter elevador. Ratos e baratas disputavam os cantos. O porteiro está sempre dormindo, bêbado.
- Como é Seu Oligário? Assim vai cair da cadeira.
Ele abriu os olhos assustado.
- Oi Dona Clarice... Bom dia...
- Boa tarde!
Respondi com o mesmo sorriso que havia usado para cumprimentar meu vizinho. Era uma forma de agradar. Sabia que eles gostavam quando usava esse artifício. Descendo os degraus que desembocavam na rua, ainda pude ouvir seu suspiro.
- Gostosa !!!
Deve ter voltado a cochilar logo que dobrei a esquina. Veio um táxi. Fiz logo sinal. O motorista parou. Entrei séria. Disse o endereço acompanhado de um discreto sorriso. Cínico, como todos os outros. Desci no restaurante combinado. O cliente já estava me esperando na varanda, tomando sua tequila com limão e petiscando algo que daquela distância pareciam azeitonas. Assim que cheguei, me elogiou, como sempre. Esqueci de conferir se eram mesmo azeitonas no pratinho. Conversamos sobre bana-lidades. Ele era jovem, bonito e tinha dinheiro. Nunca entendi porque precisava de meus serviços. Qualquer mulher poderia aprender a manusear os consolos de que tanto gostava, sem maiores sacrifícios. Pedi suco de laranja. Dentro de meia hora estávamos no motel.
Eram por volta das vinte e uma quando pedi que me deixasse na boate. Foi uma noite movimentada. Morgana apareceu perto da hora de fechar. O segurança criou problema por ter ordens de não deixá-la entrar. Na última vez abriu um gringo a facadas e deu a maior merda. Conversei com ela, mas não adiantou. Deve ter bebido a tarde toda. Saiu me amaldiçoando e disse que quando voltasse conversaríamos. Suspirando, entrei. Ela sabia que ficaríamos na pior se arranjasse um desses empregos de salário mínimo. Atendi mais dois clientes e fui para o banho. Algumas meninas dormiam por lá, mas se não fosse para casa, ia ter problemas.
O táxi que havia pedido já estava esperando. O motorista tentou puxar assunto, mas eu não estava para muito papo. Só pensava em Morgana e na chateação que iria ter quando chegasse em casa. Estava torcendo para que ela estivesse na rua. Pelo menos chegaria bêbada, em vez de me alugar com suas crises de ciúmes. Às vezes penso que seria melhor morar sozinha. Ou então voltar para minha terra. A família ficaria feliz em me ver voltar. Mas agora não dava para isso. Tinha de juntar mais dinheiro. Estava pensando em comprar um carro. Mas carro era perigoso. O último que tive Morgana estraçalhou contra o poste. Quase perdi aquela danada. Se pelo menos tivesse juízo naquela cabeça... Para que beber assim? Mas também, se não beber, fica pior. Ninguém aguenta. Ô coisinha braba que fui arrumar.
Quando nos conhecemos, se vestia de cigana e botava cartas. Fui por indicação de uma amiga e realmente encontrei meu destino. A própria cartomante. Aqueles brincos enormes... Ficava linda com aqueles lenços. O nome havia tirado não sabia bem de onde. Disse que lembrava ter ouvido em algum lugar. Coisas daquela cabeça maluca.
O porteiro estava dormindo. Passei em silêncio. Não estava para sorrisos cínicos. Abri a porta do apartamento. O vizinho da frente também estava dormindo àquela hora. Tomara que Morgana não resolva acordar todos os sonolentos com suas gritarias. A casa estava escura. Ouvi o barulho do chuveiro. Fui para o quarto. Estava tudo revirado. Uma bagunça só.
Deitei e fiquei esperando. Fechei os olhos para, no último caso, fingir que dormia. Ela não veio. Muito tempo se passou. Talvez mais de uma hora. Levantei devagar. O que estaria tramando? Às vezes me assustava com seu lado sombrio. Nunca sabia o que esperar. Bem devagar, fui até a porta do banheiro. Estava entreaberta. Empurrei com cautela. Qual loucura desta vez?
- Morgana?
Ninguém respondia. Dei uma espiada. Não poderia ser. A silhueta, que vi através das paredes plásticas do box, registrava algo terrível. Disparei pelo cômodo, abrindo a porta que me separava do meu amor. O corpo estava caído. Sem vida. Parecia uma marionete esquecida por seu dono. A barriguinha, inchada pelo álcool, tapava parte de sua xota cabeluda. Abracei-a em prantos sem saber o que fazer. Era o terror jamais sentido. A água nos molhava, enquanto pedia para que se levantasse. Só depois observei o sangue tingindo o chão do banheiro. Ainda não tinha me recuperado quando os policiais chegaram. Não saberia dizer quanto tempo passou, ou como souberam que precisávamos de ajuda. Agora, estou aqui. Tomando banho de sol no pátio. Nunca saberei o que se passou em nosso apartamento. O número 1701 de um prédio, no centro da cidade. Fui à única suspeita. Seu Oligário não havia visto ninguém entrar ou sair do prédio. Os vizinhos disseram que brigávamos muito, por isso não estranharam aquela gritaria. Uma coisa é certa e só eu sei. Eu não estava lá.
.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Entrevistando "o" poeta, Glauco Mattoso
Ele é poeta, ficcionista, ensaísta, colaborou com diversos veículos de infor-mações, como a inesquecível revista em quadrinhos Chiclete com Banana e tirou seu nome artístico da doença que o cegou. Sabem quem é? Não poderia ser outro, se não o grande Glauco Mattoso.
Como foi o despertar para a arte?
Fallando em despertar, faço logo um alerta: só escrevo pela antiga orthographia e quero que minha escripta não seja mexida, certo? Accordei para a arte porque desde creança vi que minha janella para a vida commum seria fechada pela cegueira progressiva. Foi uma sahida existencial, uma escapatoria.
Qual o principal papel da arte em sua vida?
Antes de mais nada, evitar o suicidio, ou o alcoholismo, ou as drogas mais letaes. De quebra, a arte rendeu algum tesão... (risos)
O que é o underground para você?
Para quem ja cresceu na pe-ripheria e desde cedo foi saccode pancada da moleca-da, ser "underdog" na vida ou "underground" na arte faz pouca differença... A margi-nalidade, social ou litteraria, veiu a ser meu proprio habitat.
Como foi trabalhar com o alternativo na época da ditadura?
Por ser a unica via livre da censura, a imprensa nannica offerecia um illimitado universo creativo. Meu zine anarchopoetico, "Jornal Dobrabil", fez coisa que nenhum grande orgam impresso podia fazer em termos de linguagem, diagramma-ção, conteudo, emfim, foi um vehiculo de commu-nicação de facto.
..
Glauco, careta em relação às suas obras?
Minha philosophia de vida é o paradoxo. Acho que todos somos poços de contradicção, moci-nhos e bandidos ao mesmo tempo. Portanto, nada de extranho no facto de eu ser mais louco como personagem que como pessoa.
Você se venderia para ter uma vida mais confortável?
Através da historia, e em muitas regiões do mundo, os deficientes foram escravizados ou tiveram que se pros-tituir para sobrevive-rem. Si eu vivesse na India, provavelmente seria massagista e chupador para ga-nhar o pão. Aqui posso me dar ao luxo de ser massagista e chupador para ga-nhar inspiração nos sonetos ou nos con-tos... (risos) Mas isso não significa que eu assignaria contracto com uma editora commercial que me pagasse bem mas me exigisse radicaes mudanças de estylo.
.
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O atual panorama político brasileiro e mundial segundo o poeta:
Ja versejei demais sobre o scenario politico, particu-larmente no livro"Poetica na politica", e tenho commentado a respeito em minha columna na "Caros Amigos". Não ha o que accrescentar: fallar de merda sempre foi minha especialidade..
A tese de que trocamos a ditadura militar pela capital é real?
Sim, mas na verdade nunca a trocamos. A dictadura economica é permanente. Apenas a militar foi addicionada a ella durante aquelle periodo.
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O ser humano se entregou à alienação?
Pode ser, mas ha varios typos de alienação, umas damnosas, outras gozosas. Phantasias sexuaes, mesmo as minhas, que são sadomasochistas, podem ser boa estrategia para compensar as difficuldades practicas. Ja a desinformação é a peor forma de alienação, da qual fujo como o Diabo da cruz.
Seu epitáfio.
Epitaphio? Vira essa bocca para la! Não pensei ainda. Talvez na hora de morrer eu decida. Mas seria algo como "Aqui jaz alguem que jamais soube o que dizer da morte e só fallou mal da vida"... (risos)
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Meu Ventre
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Luciana é convidada a entrar. Rosa vai precisar esperar ainda algum tempo na cadeira desconfortáveL de ferro. A partir daí Luciana já quase não consegue pensar. Tudo fica meio devagar e fantasmagórico. Quase não consegue ouvir o que é dito pela gorda de branco. Dizem que é enfermeira das boas! O pagamento já fora feito. Luciana lembra que há um ano atrás dava seu primeiro beijo. Como eram apaixonados... Rosa do lado de fora tensa, esfregava as mãos suadas – como seu irmão caçula foi capaz de tamanha irresponsabilidade! Luciana passa por uma sala luxuosa e é levada a um quartinho nos fundos da cozinha. O cheiro de éter... Algo é aplicado na veia do seu braço direito. Aí sim, tudo ficou mais lento e mais fantasmagórico ainda. Tonta, só consegue lembrar das tertúlias e dos seus pais estacionados na saída do clube, a sua espera, à meia noite. Ela saindo de dentro da danceteria, muito suada. Dançavam horrores. Só acalmavam na música romântica. Quando colavam os rostos. Enquanto seus pensamentos pueris voam, Luciana é escarafunchada por dentro. Até que ouve a voz da mulher de branco ao longe, dizendo que tudo havia terminado, o problema resolvido. Passou-lhe várias instruções, enfatizando a parte dos antibióticos. De fato era uma boa enfermeria essa mulher! Pra Luciana, esse foi um outro anjo da guarda naquele dia cinzento. Um tanto tosco, mas anjo! Disse também que os tampões de gazes deveriam ser mantidos por ora. E que, por algum tempo, Luciana ainda sangraria muito.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Ventania - Versão 2
arenosas montanhas
tortuosas escaldantes
do deserto amarelado
que por séculos caminho
- com SEDE,
- com FOME,
chega ao fim
meu prolongado
martírio
Pois já não seca,
essa fonte em que bebo
cremoso, o sabor desse
néctar
E o sol já não me
escama a pele
E a areia
já não me arranha os póros
Não choro
solitária e com sede
Me alegro
por trazer em meu peito
um oásis
de carinho e afeto
Tesouro
generoso, infinito
onde o brilho
por te ter feliz.
É leve e suave,
caramelo oásis
que carrego comigo.
Elke Gibson
domingo, 20 de setembro de 2009
Poesia conjugada em vermelho
Não despeje silêncio
nessa porta em que o corpo
colhe o berço da semente.
Esteja certa porque é sábio
o teu resguardo e clara
a beleza em arvoredo
de angústia.
A poesia conjugada
em vermelho revela
uma luta insaciável.
As letras expelidas
em tua reinação
camuflam gozos
permanentes.
Num verso receoso
a opção de estar entregue...
Pela existência improvável
a magnitude em ser ELKE!
André Nóbrega, meu amigo poeta querido. Obrigada!
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Os Três Atos
...em pleno expediente, partiu tensa rumo ao banheiro da firma - escolheu o box para deficientes físicos, onde podia esticar as pernas.
2o. e 3o Atos
Gozou deliciosamente em silêncio enquanto sua colega de trabalho escovava a língua na pia.
Voltou pra mesa com músculos doloridos - e uma caimbra nas nádegas. Sorriu e retomou a planilha.
EG
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Setembro
Caramelos que me derretem! Não podeis por favor virar...duas ameixas?? Assim, sem ciumeira, seguiria eu menos feliz. Menos tua. Menos prisioneira
Pra que diabos tanta humanidade?!! pra que diabos tantas paixões, tanto suspiro, arrepio, tristeza... tanto apego! tanta seiva...
Quero engrenagens! Parafusos! Correias! Que não derretem.. não lacrimejam, não te querem... e não escorrem.
Não rasgam, não sangram, não sofrem... não esperneiam.
Pausa então pra diaba-humana lamber a ferida... que lateja, um tantico e ainda... quando sopram dos lestes as brisas.
EG
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Salve bom, velho e bêbado Bukowski! Tempo perfeito, deliciosamente visual. Animalesco! Puro Roteiro!
Encontrei uma pensão próxima ao trabalho. Fazer a mudança não era difícil. Minhas coisas não enchiam nem a metade de uma mala...
Mama Strader era minha senhoria, uma ruiva apagada de boa aparência, muitos dentes de ouro e um namorado velhusco. Chamou-me na cozinha, logo na primeira manhã, e disse que me daria um copo de uísque se eu fosse lá fora alimentar as galinhas. Depois de cumprir a missão, sentei-me para beber com Mama e seu namorado, Al. Estava uma hora atrasado para o trabalho.
Na segunda noite, houve uma batida na minha porta. Era uma gorda já entrada nos quarenta. Trazia uma garrafa de vinho.
_ Moro num quarto do outro lado do corredor, me chamo Martha. Você está sempre escutando boa música. Pensei em lhe trazer uma bebida.
Martha entrou. Vestia uma espécie de bata verde e, depois de alguns copos de vinho, começou a me mostrar suas pernas.
_ Tenho pernas legais.
_ Sou vidrado em pernas.
_ Olhe mais pra cima.
Suas pernas eram muito brancas, gorduchas, flácidas, com veias roxas e protuberantes. Martha me contou sua história.
Era uma prostituta. Tinha percorrido todo o circuito dos bares. Sua principal fonte de renda era o dono de uma loja de departamentos.
_ Ele me dá dinheiro. Vou até a loja dele e levo tudo o que quero. Os vendedores não me incomodam. Ele disse pra me deixarem em paz. Ele não quer que a mulher saiba que eu trepo muito melhor do que ela.
Martha se levantou e ligou o rádio. Alto.
_ Sou uma ótima dançarina - ela disse. - Veja como eu danço!
Ela girava dentro daquela barraca verde, dando chutes no ar. Estava longe de ser o que alardeava. Logo a bata passava da linha de sua cintura, e ela começou a balançar a bunda bem junto ao meu rosto. A calcinha rosa tinha um enorme furo sobre o glúteo direito. Então a bata já era, e ela ficou só de calcinha. Logo todas as suas vestes estavam no chão, e ela seguiu com o número. Seus pêlos pubianos quase desapareciam debaixo da barriga frouxa, que não parava de balançar.
O suor fazia com que sua maquiagem escorresse. Subitamente seus olhos se estreitaram. Eu estava sentado na beirada da cama. Ela se jogou sobre mim antes que eu pudesse reagir. Sua boca já aberta foi pressionada contra a minha. Tinha gosto de cuspe e cebolas e vinho barato e (imaginei) dos espermas de quatrocentos homens. Enfiou sua língua na minha boca. Estava grossa pela quantidade de saliva, o que me fez engasgar e empurrá-la para longe. Ela se pôs de joelhos, baixou meu zíper, e em um segundo meu pau frouxo estava em sua boca. Ela chupou e bateu. Martha usava uma pequena fita amarela em seu cabelo grisalho e curto. Tinha verrugas e grandes pintas marrons no pescoço e nas bochechas.
Meu pênis subiu; ela gemeu e me deu uma mordida. Gritei, segurei-a pelos cabelos e a afastei. Fiquei de pé no centro do quarto, aterrorizado e ferido. Tocavam uma sinfonia do Mahler no rádio. Antes que eu pudesse me mover, ela estava novamente de joelhos. Agarrou minhas bolas sem qualquer piedade com as duas mãos. Sua boca se abriu, ela me tomou; sua cabeça ia e vinha, chupando, masturbando. Ela me obrigou a deitar no chão, dando um tremendo puxão no meu saco, quase partindo meu pau ao meio com os dentes. Os sons da chupada enchiam o quarto, enquanto o rádio tocava Mahler. Era como se eu estivesse sendo devorado por um animal impiedoso. Meu pau endureceu, coberto de cuspe e sangue. A visão daquilo a enlouqueceu. Era como ser devorado vivo.
Se eu gozar, pensei em desespero, jamais me perdoarei.
Quando consegui dar um jeito de agarrar seus cabelos para afastá-la, ela apertou novamente minhas bolas e as esmagou sem pena. Seus dentes cravaram na metade do meu pau como se quisessem, feito uma tesoura, parti-lo ao meio. Gritei, soltei-lhe o cabelo, deitei no chão. Sua cabeça seguia em ação, sem qualquer remorso. Tinha certeza de que essa chupada podia ser ouvida ao longo de toda pensão.
_ NÃO! - gritei.
Ela prosseguiu com uma fúria inumana. Comecei a gozar. Era como sugar o interior de uma serpente que estivesse presa. Sua fúria mesclava-se à loucura; ela engoliu todo o esperma, fazendo-o gorgolejar em sua garganta.
Ela continuou masturbando e chupando.
_ Martha! Chega! Acabou!
Ela não iria parar. Era como se tivesse se transformado numa enorme boca, capaz de devorar tudo. Continuou chupando e masturbando. Seguiu e seguiu.
_ NÃO! - gritei novamente.
Desta vez ela bebeu como se fosse uma batida de baunilha, de canudinho.
"When a New York baby says
goodnight it's early in the morning
goodnight, sweetheart
it's early in the morning
goodnight, sweetheart
milkman's on his way home.. ."
Com esforço fiquei de pé, agarrando-me aos bolsos da minha calça em busca da carteira. Saquei uma nota de US$ 5, passei a ela. Pegou a nota e enfiou-a entre os seios, pela parte frontal do vestido, deu mais uma agarrada, bem faceira, nas minhas bolas, apertou-as, soltou e seguiu bailando quarto afora.
invasão
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
PASTO FELIZ
EG, a vaquinha infeliz.
domingo, 6 de setembro de 2009
Felicidade
Há os que juram ter visto um rasgo de alegria em meu rosto. Penso até que sorri.
domingo, 23 de agosto de 2009
...quanto estrago
"Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparada atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheia pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele..."
por Caio Fernando Abreu
a que eu completaria:
te faltará o ar, o amor próprio e todo e qualquer rasgo de lucidez... louca e de olheiras, vagarás pelo mundo na única companhia de um fantasma obsessor de olhos caramelos. Que faminto, te possuirá quando em vez. Reza, pobre diaba...
EG
A Cura
Tu magnitude me seqüestra
e a pouca resistência que resta não contesta
A tua beldade
Tua alma intrépida
Faz de mim réplica
Me multiplica as vontades
Teu colo generoso
Me deixa nervoso
Me põe em alvoroço
Em sulfúrica ansiedade
És a cura da loucura que me assombra
És, das doçuras, a mais pura, a qual não se compra
Se conquista.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
ECO
_ Olá...
Não empostei muito bem. Rrum! Rrum! Tentei limpar a garganta.
_Olá!
Esse já foi um pouco melhor, com um retorno pequeno, mas satisfatório. Mas ainda não o retorno dos meus sonhos. Então lembrei das minhas aulas de canto e tentei sustentar tudo no diafragma. Respirei fuuuuundo até quase implodir os pulmões, num mergulho cego às entranhas, e então, como um verdadeiro tenor de sucesso, mandei ver em um raríssimo Dó4...
_ OLÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ.
Sustentei a respiração por alguns segundos no fonema {a} de forma que a parede deve ter tido uma visão bem privilegiada da minha campainha, vibrante feito varinha verde, no caso, varinha vermelha. Visão não só da campainha, como também da mucosa inteira, do palato todo, da língua gorda, das pontes e coroas, acumuladas com o marcar - de novo, marcar, não passar – de todos esses anos. E o retorno tão desejado finalmente veio num soco de moléculas malemolentes e ondulantes que chegaram até a me descabelar. Feliz e com olhos marejados, chorei de emoção. Trêmulo, prosseguiu então o pequeno poodle.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
gotam animal project ¬¬
- sua especialidade
animal que é ¬¬
perambulando à solta
em madrugadas quentes
de um aterro sujo
deslizando em tango
devorando toRpe
uma presa
luxurienta raivosa e grogue
mastigando
vísceras certezas
e o músculo!
último estrebucho
E o flagra!
que taRda...
já tudo engOlido
es
corre
EG
terça-feira, 28 de julho de 2009
Poema que eu não teria feito
Ele hoje acordou com uma puta vontade de poetizar a finitude. E pensou: quero escrever algo novo, de construção perfeita, sonoro, com ritmo e melodia a tal ponto fuderosos que sua leitura empostada emitiria flashes de cores nunca antes experimentadas por ouvidos sensíveis. Esses lubrificados canais auditivos predispostos ao prazer e só ao prazer – nada de surdez, por obséquio, pois surdos aqui não têm uma única vez! O leitor desse poema de morte, do alto de um púlpito de mil ouvintes salivantes, ergueria então o queixo, apertaria os olhos com ramificações nervosas a abocanhar o branco globo ocular em fúria, feito teia carmim de uma viúva negra, em simetria com veias arregaçadas e insandecidas dos braços e pescoço a bombear tesão em estado de divina graça até mãos histéricas, enquanto o peito arfado cospe jatos em cores & versos, escarrados por entre dentes, maculados por uma língua lasciva e cadenciados por uma respiração dolorida. Os joelhos do leitor dobrariam em exaustão. Pobre leitor derrotado. Prostrado, semi-morto, finalizaria a sinfonia. Assim seria esse tal poema de morte.
EG
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Diário de Bordo 1
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Vida
deter
aquele que já não
respira?
nenhum temor,
amarras
choro
muro armadura
esquecimento ou faca
cianureto lágrima
soco pontapé injúria
oxalá que eu sempre morra!
de morte mais cruenta
de morte bem sofridíssima!
liberta!
liberta-me que
te quero plena...
Senhora Foice
liberta-me que te quero,
vida!
EG
terça-feira, 14 de julho de 2009
espetaculando
Só quando passa por esses perrengues é que bate um arrependimento por enrolar tanto com essa maldita fimose. Inadmissível que EU – ser tão ciber-ultra-mega-rápido-modernoso-eficiente-atualizado, prestes a se lançar no estrelato business, com a capa da Jovens Empresários batendo à porta – seja capaz de conviver com essa aporrinhação se arrastando por tanto tempo. Relaxado, libera gases tímidos, mas bastante eficazes. EU deixa o box.
Ainda pingando, senta afoito no banco comprido de ripas de madeira, com uma toalha branca enrolada na cintura e blackberry de última geração em punho.
@ 7:25 am
bdia! 1ª info importante do dia: de pé as 7:25, dps d puta spinning, td xêroso e lavado, no banheiro da academia marcando medico! :-( pqp ninguem merece...
Devidamente bezuntado de cremes, cabelos indefectivelmente plácidos e gentis, em largas e bem comportadas ondas após a aplicação do gel importado, EU faz uma careta pro espelho pra depois sorrir de satisfação. Perfeição, única palavra cabível... E com um pedaço de papel higiênico, limpa resquícios das narinas de pêlos recém aparados na rotineira faxina geral, cuja abrangência alcança também os pêlos das orelhas - se demora, lobisomem ataca - bem como os pubianos, tão inconvenientes numas e noutras circunstâncias. Desembainha novamente o “fôni intiligente”.
@ 7:50 am
saindo d banho caprixado tdo boa pinta..indo pra reuniao importante! possibilidade grande negocio! torcam por mim cambada! ô vida xata kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
@ 8:30 am
indo limpar dentes apos maravilhoso croissant com cappuccino antes da reuniao... mto ansioso.
E...
@ 10:15 am
reuniao done... success is my name!..simply perfect! q venha Jovens Empresarios!
@ 10:25 am
BETO, happy hour na drinkeria hj, 20:13...I’ll be there, Lauriano Hulk & Angelina too..aparece cara!
@ 1:15 am
pappo iteresante com famila hluk..cHeo amigoss
EU abre a porta do flat às 1:44. Joga a pasta no sofá, arrasta-se cambaleante até o lap top. Um calafrio percorre a espinhela. Ansiedade! eu baixa a cabeça engolido pelo ciber vácuo. Punhal no peito... eu, um coisinha de nada: Visitors Count 0!
@ 2:08 am
na cama em boacommpania?..porrra de madita fimose..:-(
-
EU fade out.
Battery at 1%...
domingo, 12 de julho de 2009
O Cortejo
Pebbles, por certo, a aguardaria muito ansiosa.